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"Biden passará por Angola e os nossos problemas continuam"

António Cascais
29 de novembro de 2024

Em final de mandato, Joe Biden visita Angola. O general Abílio Kamalata Numa, ex-secretário-geral da UNITA, duvida que a viagem traga grandes vantagens ao país. E pede a Biden que se encontre com oposição.

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EUA-Angola: Joe Biden com o Presidente João Lourenço em Washington, em novembro de 2023
Joe Biden visita Angola a convite do seu homólogo angolano João Lourenço (foto de arquivo)Foto: Yuri Gripas/ABACAPRESS/picture alliance

O Presidente norte-americano, Joe Biden, visita Angola na próxima semana, e a oposição no país espera que "o representante de umas maiores democracias do mundo" consiga arranjar tempo "para se avistar", pelo menos, com o líder da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior.

Em entrevista à DW, o general Abílio Kamalata Numa, antigo secretário-geral da maior força da oposição no país, afirma que, se isso não acontecer, seria uma "aberração. 

Sobre a visita em si, esperada para segunda e terça-feira próximas, Kamalata Numa espera que o impacto seja "pequeno", uma vez que Biden vai ser em breve substituído no cargo, não se sabendo se o novo Presidente Donald Trump e o partido Republicano prosseguirão os projetos lançados pelo partido Democrata em Angola.

"Biden vem a Angola, depois voltará à América, e os problemas dos angolanos continuam", comenta o general.

DW África: Como avalia a importância desta visita de Joe Biden a Angola?

Abílio Kamalata Numa (AKN): O Presidente Biden está no fim do seu mandato e vem aqui como Presidente em exercício, sem grandes poderes, mas tentando dar alguma vivacidade a acordos anteriormente assumidos em relação ao Corredor do Lobito.

Há aqui uma discrepância entre uma grande democracia a dar vida a um regime autocrático, onde as lutas pelo aprofundamento da democracia são tensas. A administração norte-americana vem para aqui para dar oxigénio. Esta é a parte mais importante que o regime angolano quer abraçar.

General Abílio Kamalata Numa, antigo secretário-geral da UNITA
"Biden está no fim do seu mandato e vem [a Angola] como Presidente em exercício, sem grandes poderes", afirma o general Abílio Kamalata NumaFoto: DW/Nelson Sul d'Angola

DW África: O impacto desta visita vai ser grande?

AKN: Acho que o seu impacto vai ser muito menor, porque não sabemos qual será o posicionamento de Trump em relação a todos esses interesses anteriores do Governo do Partido Democrata, liderado pelo senhor Presidente Biden. Não acho que Biden, numa altura em que ele termina o mandato, venha dar algum poder.

DW África: De qualquer forma, o Presidente da República, João Lourenço, "festeja" esta visita como vitória pessoal, uma vez que ele se empenhou e muito nesta visita.

AKN: Sim, o senhor João Lourenço vai tirar dividendos desta visita. Mas, do ponto de vista factual, o Presidente João Lourenço não vai resolver o problema da fome que grassa neste preciso momento em todo o país, e a falta de emprego, sobretudo da juventude. Biden vem num dia e no outro dia os nossos problemas vão continuar.

DW África: Os representantes da UNITA, o próprio general ou o presidente da UNITA, vão ter a oportunidade de se avistar com o Presidente dos Estados Unidos da América?

AKN: O presidente do meu partido, no âmbito da [coligação] Frente Patriótica Unida, tem estado nas primeiras posições de aproximação a este desejo. Seria muito mau que Biden, representante de uma das maiores democracias do mundo, viesse para aqui e não falasse com as lideranças da oposição.

Corredor do Lobito: A bandeira na relação entre Angola e EUA

DW África: Para além dos interesses económicos, o senhor general sabe se haverá conversações no sentido de aprofundar a cooperação militar?

AKN: Eu faço parte daqueles que fundaram as Forças Armadas Angolanas. Nós gostaríamos que Angola tivesse doutrina e depois capacidade de projetar a construção das Forças Armadas numa direção mais assertiva. Hoje, eu já não sei que tipo de doutrina está a ser projetada para as Forças Armadas Angolanas.

Nota-se material russo, material chinês, material que vem do Ocidente, com doutrinas completamente díspares em relação a esta forma de equipar as nossas Forças Armadas. Portanto, se de facto a agenda norte-americana tiver seriedade em querer aprofundar uma agenda de construção das Forças Armadas Angolanas num contexto mais ocidental, esperamos que, de facto, deixemos de ser armados por todo o mundo.