Beira: Depois da tempestade, a reconstrução
A Beira tenta reerguer-se após o ciclone Idai. Autoridades e habitantes estão focados na limpeza da cidade e na reabilitação de infraestruturas.
Beira em obras
Seis semanas depois da passagem do ciclone Idai, reconstruir é palavra de ordem na Beira. Quase todos os telhados foram arrancados ou danificados. O Banco Mundial estima em 2 mil milhões de dólares (1,78 mil milhões de euros) os prejuízos nos países afetados - Moçambique, Malawi e Zimbabué.
Viver sem teto
André Lino ficou sem telhado à passagem do ciclone e não tem como pagar um novo. Vive aqui com a família desde 1977, a 100 metros da praia. "O mar está a aproximar-se", afirma. "Isso assusta-me". Se tivesse dinheiro suficiente, ia-se embora, conta.
O mar cada vez mais perto
Partes da Beira estão abaixo do nível do mar. No passado, a cidade sofreu várias vezes com graves inundações. E há ameaça de novos desastres: o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas estima que o nível do mar deverá subir entre 40 a 80 centímetros até 2100.
Cabanas frágeis à beira-mar
Os habitantes das zonas mais pobres da cidade, como a Praia Nova, foram os mais afetados. As suas cabanas desmoronaram-se rapidamente. Muitos pescadores também perderam os seus barcos devido ao ciclone.
Projeto de gestão das águas contra as cheias
No centro da cidade, foram construídos há alguns anos milhões de quilómetros de canais e estruturas para controlar as marés, com a ajuda do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. A instituição contribuiu com 13 milhões de euros para o financiamento dos trabalhos de construção.
Menos danos graças à cancela
"No dia do ciclone, começou também a chuva", lembra Eduardo dos Santos, que opera uma das cancelas construídas para proteger a Beira de inundações. "Abrimos as comportas para que a água pudesse regressar ao mar. Se não o tivéssemos feito, teria havido cheias ainda piores na cidade".
Edil contra as mudanças climáticas
"Já estamos habituados a inundações", diz o edil Daviz Simango. "Mas um ciclone assim foi algo novo para nós. Agora, temos de reagir". Simango está a organizar uma conferência de doadores na Beira, em junho. O edil espera angariar fundos para preparar a cidade para as mudanças climáticas.
Trabalhos de limpeza continuam
As autoridades continuam empenhadas em restaurar a ordem. Em algumas zonas da cidade já há eletricidade e água corrente. Noutras áreas ainda são visíveis os destroços causados pelo ciclone.
Uma frente de voluntários
Voluntários como Magdalena Louis ajudam nos trabalhos de reconstrução. Há várias semanas que está aqui a trabalhar e, em troca, a cidade da Beira dá-lhe apenas o almoço. "Só quero que a nossa cidade esteja limpa outra vez. Ninguém tem de me pagar por isso", afirma.
Campos de refugiados na cidade
Há organizações humanitárias de todo o mundo por toda a cidade. Milhares de pessoas continuam a viver em tendas e a depender de ajuda alimentar. A saúde também é uma preocupação: a Beira foi atingida por uma crise de cólera e registam-se vários casos de malária.
Sem colheitas, não há comida
Nos arredores da Beira, o ciclone destruiu grandes áreas de cultivo. "Todo o milho, todo o arroz... foi-se tudo", conta a agricultora Elisa Jaque, de 61 anos. Já está a plantar novamente, mas só dentro de seis meses deverá voltar a ser capaz de alimentar a sua família.
Regresso à rotina
Apesar de tudo, há sinais de regresso à rotina e à normalidade. Um jogo amigável do Grupo Desportivo da Companhia Têxtil do Púnguè atrai centenas de adeptos - apesar de o telhado do estádio ter sido também atingido pelo Idai.
Rumo à normalidade
Quem não pode pagar o bilhete para ver o jogo, encontra soluções criativas. À volta do estádio, mini-autocarros e carrinhas estacionados funcionam como bancadas improvisadas gratuitas. O cenário deve repetir-se no fim de semana, com o arranque do Moçambola e o Têxtil do Púnguè - União Desportiva do Songo agendado para 27 de abril.