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Angola tem cada vez mais poder sobre Portugal

João Carlos (Lisboa)13 de maio de 2015

O clã dos Santos tem um grande poder na economia portuguesa, afirmam os autores do livro “Os Novos Donos Disto Tudo – Quem manda de facto em Portugal”, lançado na sexta-feira (08.05), em Lisboa.

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Foto: DW/J. Carlos

No seu livro "Os Novos Donos Disto Tudo – Quem manda de facto em Portugal", os jornalistas do Diário Económico Filipe Alves e António Sarmento apresentam a nova teia de poder e as mudanças que o tecido empresarial português sofreu devido à crescente influência estrangeira. É dado destaque ao império da empresária angolana Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, atual Presidente de Angola.

Depois do fim da guerra civil, Angola tem vindo a assumir uma posição muito importante no investimento em Portugal. O seu poder aumentou significativamente nos últimos anos, com o reforço do capital angolano em setores estratégicos da economia portuguesa, antes vedados ao investimento estrangeiro. A crise financeira e económica portuguesa abriu portas a oportunidades que fazem da antiga colónia um dos “novos donos” de Portugal.

“A influência de José Eduardo dos Santos e do clã político e familiar que lidera reforçou-se a todos os níveis nos últimos 5 anos em Portugal, desde que eclodiu a crise e que houve o resgate internacional”, afirma Filipe Alves, co-autor da obra. “Vários ativos foram vendidos, os angolanos tomaram posições sobretudo na banca e na energia, e estão agora a negociar a compra de outras empresas, nomeadamente na área das tecnologias. Também estão presentes nos media e noutros setores, como o das conservas.”

Journalist Filipe Alves
O jornalista Filipe Alves é o co-autor do livro, que já se encontra nas livrarias.Foto: DW/J. Carlos

Filipe Alves reforça ainda que esse movimento de interesses na economia portuguesa é liderado pelo poder político. “Os grandes investimentos em Portugal são feitos com o consentimento, e em alguns casos até com a orientação, do poder político de Angola. Todos os grandes negócios, nomeadamente na banca e na energia, ou envolvem empresas estatais angolanas, como é o caso da Sonangol, uma grande petrolífera estatal, ou então figuras próximas do poder político.”

O livro apresenta vários exemplos factuais destes investimentos, nomeadamente da Sonangol e de empresas de Isabel dos Santos na banca portuguesa, e explica as origens das fortunas dos novos poderosos angolanos.

Os investimentos angolanos em Portugal continuam a crescer

Além de energia, telecomunicações e imobiliário, o investimento angolano poderá crescer ainda mais, segundo Filipe Alves, abrangendo também a comunicação social. Em Portugal, há quem não veja este “poder angolano” com bons olhos.

Como as relações económicas e políticas luso-angolanas são desenvolvidas nos dois sentidos, o clã dos Santos também tem a palavra decisiva no investimento português em Angola, sustenta Filipe Alves.

“Creio que a banca é o setor mais paradigmático da presença portuguesa em Angola, porque a maior parte dos grandes bancos que estão no país têm capital português. Houve agora uma mudança de circunstâncias com o BES Angola, que colapsou tal como o BES português, mas Portugal continua a ter uma grande importância no setor bancário angolano, e todos esses negócios são feitos com o acordo do poder político em Angola”, explica o jornalista.

E isso, acrescenta, acontece em muitos outros países em várias partes do mundo, onde também aparecem vários empresários angolanos que são parceiros de grupos portugueses em Angola. Há o caso do Banco Fomento de Angola (BFA), controlado pelo Banco Português do Investimento (BPI), no qual a filha do presidente angolano aparece como acionista de referência.

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O livro dá também destaque aos investimentos chineses e de outros grupos, sublinhando a posição de neutralidade e de abertura total do Governo português, que considera importante o capital estrangeiro independentemente da sua origem.

Outro aspeto relevante, sublinha Filipe Alves, «é a necessidade [que Portugal tem] de vender os anéis para capitalizar as empresas portuguesas e pagar as dívidas». Mas os autores concluem que, se os portugueses quiserem, serão eles os verdadeiros donos do destino futuro do país, por muito poder que os “novos donos disto tudo” tenham na economia portuguesa.

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