Ativistas na esquadra após protesto impedido em Luanda
16 de março de 2024A concentração começou no Largo da Cimex, arredores da cidade de Luanda, mas rapidamente foi reprimida pelas autoridades policiais.
Vários manifestantes, homens e mulheres, pretendiam marchar passando pelo viaduto da Unidade Operativa, Kalemba, até ao Largo da Teixeira, próximo do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. Segundo a organização, o objetivo era repudiar a violência contra as mulheres zungueiras.
Por volta das onze e meia da manhã, algumas ativistas e vendedoras ambulantes mobilizadas para o efeito já se faziam notar naquela zona da cidade.
No chão estavam cartazes com dizeres como "País fértil, gestão falhada", "A má governação pariu a zunga" e "O governo quer nos abortar", entre outras.
Com megafones, ativistas como Marinela Pascoal e Elizabeth Campos mobilizavam as vendedoras ambulantes que, com os seus produtos sobre a cabeça, enchiam o local da concentração.
Porém, minutos depois, a polícia, munida de aparato, surgiu e reprimiu a marcha, alegando que a mesma não tinha sido autorizada.
À medida que os agentes da polícia rasgavam os cartazes, as zungueiras cantavam: "polícia é do povo e não é do MPLA" e "ser zungueira não é crime".
Na onda de dispersão dos manifestantes, a imprensa não foi poupada, como explicou à DW o repórter Hermenegildo Kaculo, da TV Folha 8. "A polícia tentou receber a minha câmara de filmagem alegando que não estava autorizado para fazer reportagem. Até pegou nas minhas mãos e estremeceu-as para ver se eu deixava cair a câmara, mas como eu estava a fazer o meu trabalho, mantive a postura de jornalista", contou.
Impasse durou uma hora
O impasse entre a polícia e a imprensa durou quase uma hora quando alguns repórtes foram convidados a ir à esquadra do Neves Bendinha, a escassos metros do local onde decorria o protesto.
"Nós recusamos porque estávamos a fazer o nosso trabalho", esclareceu Hermenegildo Kaculo.
As promotoras da marcha também foram convidadas a ir à esquadra prestar depoimentos. Apesar da resistência, consentiram e foram levadas pela polícia.
"Nós estamos aqui na esquadra do Neves Bendinha. Ninguém nos ouviu, deixaram-nos aqui, estamos aqui sem informação nenhuma. Se estamos detidas ou estamos retidas, nenhuma informação", disse Laurinda Gouveia três horas depois de ter sido levada para a esquadra.
"A comandante ordenou que fossemos levados à esquadra e nós viemos andando na paz e na tranquilidade, uma vez que eles inviabilizaram a nossa atividade. Tratava-se de uma atividade normal que temos feito, nos dias normais, sobretudo todos os meses de março", frisou.
"Como sabemos, o mês de março é o mês da luta das mulheres pelos seus direitos", explicou Laurinda Gouveia a partir da esquadra.
Laurinda Gouveia, Marinela Pascoal e Elizabeth Campos permaneciam naquela esquadra policial às 17h30 (hora local), tempo do fecho desta reportagem. A DW África tentou ouvir o Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, mas sem sucesso.