Ativistas angolanos sem medo de voltar à cadeia
29 de julho de 2016Depois de ser libertado há um mês com termo de identidade e de residência como a maioria dos outros ativistas do processo 15+2, Nuno Álvaro Dala voltou à Universidade. O professor continua a fazer investigação social. E em paralelo, regressou ao ativismo político.
"Não existe da minha parte qualquer tipo de medo de regressar à cadeia", afirma em entrevista à DW África.
O ativista, acusado de atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, foi condenado em março a quatro anos e seis meses de prisão - o seu colega Arante Kivuvu rebebeu a mesma pena.
Durante a entrevista, Kivuvu coloca em cima da mesa a Constituição da República de Angola e o livro "Da Ditadura à Democracia", de Gene Sharp, a obra que os ativistas debatiam quando foram detidos em 2015.
"Não tenho receio de ler", diz. "Estou a aprimorar mais as técnicas [para] conseguirmos manter a nossa resistência pacífica e manifestarmos o nosso descontentamento nessa crise que eles criaram".
A quebra do preço do crude nos mercados internacionais atingiu fortemente a economia angolana, bastante dependente das receitas petrolíferas. Com dificuldades em obter divisas, o país passou a importar menos e os preços dos produtos básicos aumentaram.
Noutro ponto de Luanda, o jovem Nito Alves também prossegue o seu trabalho de ativismo. Mas a sua detenção impediu que concluísse o bacharelato em Relações Internacionais e Ciência Política: "Estou sem valores no banco e os meus familiares estão com problemas de saúde."
"Dago Nível" continua detido
O único ativista ligado ao processo "15+2" que continua detido, na cadeia de Viana, é Francisco Mapanda.
"Dago Nível", como é conhecido, foi condenado pelo Tribunal Provincial de Luanda a oito meses de prisão por ter dito que o julgamento dos 17 era uma "palhaçada". A associação cívica "Mãos Livres" responsabilizou-se pela defesa do jovem ativista, detido há quatro meses.
O caso de "Dago" tem sido visto pela sociedade como um assunto isolado, mas Nuno Álvaro Dala discorda, apelando à solidariedade e à libertação do ativista.
"Tal como fizeram com os 15+2, também entendo que deve se dar o mesmo tratamento ao "Dago". Porque Dago, para além de ele ser ativista, fez aquilo por nós, solidarizou-se por nós", afirma. "É preciso que ele saia."