Ativistas angolanos não têm medo, mesmo depois de novas intimidações
20 de novembro de 2014O protesto, organizado na maioria por jovens angolanos, pretende reivindicar a saída do líder e uma distribuição equilibrada da riqueza do país.
A menos de dois dias da manifestação, as intimidações já se fizeram sentir. Adolfo Campos, do Movimento Revolucionário, organização que também participa na manifestação, recorda que as ameaças não são de agora, mas denota a intensificação das mesmas na última semana.
"Já começaram a aparecer em casa dos ativistas, para ver se conseguem fazer alguma coisa. Não sabemos qual é o plano deles. Da noite de hoje para amanhã, ainda muita coisa vai ocorrer", avisa.
À procura de Mandela
António Kissanda, mais conhecido por Beimane, porta-voz do Conselho Nacional dos Ativistas de Angola, em entrevista à DW África relata em concreto um episódio de intimidação com um dos ativistas.
"No período noturno, por volta das 22 do dia de ontem [19.11], na casa de um dos nossos membros, de Raul Mandela, foi um carro Land Cruiser, branco, com vidros fumados, à procura dele… Mas na graça de Deus ele escapou ao atentado", conta.
"Eles chegaram a dizer que eram amigos do Mandela e que estavam à procura do Mandela... Mas encontraram-se com o próprio Mandela quando faziam as perguntas", explica.
Por outro lado, Adolfo Campos, do Movimento Revolucionário, revela que o Governo preparou um outro protesto no mesmo local e à mesma hora do dia da manifestação convocada pelos jovens. Trata-se de uma ação de protesto dos professores a favor do Governo do MPLA, algo que na sua ótica é inconstitucional.
"Nós esperamos que a polícia nacional seja apartidária. Vamos ver o que eles vão fazer, deveriam proteger os manifestantes e reprimir os professores para que não comparecessem. Não pode haver uma contra-manifestação. Isto é irregular, é contra a lei constitucional", defende.
Angolanos sem medo
O protesto preparado por movimentos independentes de 18 províncias angolanas pretende pedir a demissão imediata de José Eduardo dos Santos do cargo de Presidente da República, lugar que ocupa há mais de 35 anos.
"Nunca tivemos medo, inclusivamente estamos quase mortos… Já sofremos muitas torturas, prisões inclusivé. Isto é do conhecimento do mundo. Nós estamos aqui erguidos, não fugimos de Angola. É em Angola que vamos resolver os nossos problemas. Se eles quiserem matar, vão matar novamente", diz Adolfo Campos.
"Nós não queremos que um ditador continue no poder, ele não pode continuar", reclama.
António Kissanda frisa que o protesto vai mesmo acontecer, em clima de paz, e no âmbito do exercício do direito de liberdade de expressão e manifestação.
"A manifestação, como sempre, será pacífica, quem cria distúrbios é a polícia, quem cria o clima de medo na sociedade é a própria polícia", critica.
"Sabemos que a cada dia que passa entram mais militares na cidade de Luanda, já estão acampados na cidade alta para criar um clima de medo… Nós estamos conscientes disso, independente dos riscos que estamos a passar e que vamos passar", comenta Kissanda, que acrescenta: "Estamos prontos".