Angola: Ativista expõe esquema de corrupção e recebe ameaças
31 de agosto de 2023Em Angola, o ativista cívico Jerónimo Nsinsa está a enfrentar ameaças de morte após denunciar alegados esquemas de corrupção envolvendo o governador da província do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho, e o seu secretário. Nsinsa tem utilizado as redes sociais para revelar detalhes destas supostas práticas corruptas, o que o colocou no centro de uma investigação do Serviço de Investigação Criminal (SIC).
O ativista acusa o governador Mendes de Carvalho de estar envolvido em pagamentos irregulares a empresas ligadas a si - empresas, que, segundo Nsinsa, não prestam serviços ao Governo. Entre as empresas citadas encontram-se a Unif 300, a Fortes Comércio e Serviços, a PSTEC e a Firework, esta última relacionada com o setor farmacêutico. Nsinsa afirma que estas empresas têm recebido pagamentos exorbitantes sem a devida prestação de serviços ao Zaire.
"A empresa Unif recebeu 57 milhões de kwanzas para comprar tinteiros, para comprar resmas e papel higiénico. Não é possível que se gaste 57 milhões de kwanzas em papel higiénico. A empresa Fortes Comércio e Serviços recebeu 179 milhões de kwanzas sem prestar serviços", acusa.
De acordo com Nsinsa, os pagamentos são efetuados sem a existência de contratos formais, e as ordens de pagamento são assinadas pelo próprio governador e por vice-governadores. O ativista destaca que as evidências documentais sustentam as suas acusações e que há falta de transparência nos gastos públicos na província do Zaire.
"Porque é que a PGR não age?"
O ativista expressa frustração com a falta de ação por parte da Procuradoria Geral da República (PGR) em relação às suas denúncias, afirmando que a PGR parece ignorar as alegações de corrupção. Além disso, destaca que não apenas ele, mas também empresas diretamente envolvidas nos alegados esquemas corruptos, foram ignoradas pela investigação.
"Neste processo, sou o único que estou a ser notificado, que devo continuar a prestar depoimento. Mesmo as empresas que vão saqueando o Estado, o Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado (SIGFE), onde se faz toda a manobra corruptiva, estão lá no Zaire, entregamos as listas das empresas, as ordens de saque, as datas de pagamentos, as contas bancárias. Porque é que o Ministério Público e o SIC não vão atrás destes factos?", questiona.
Por sua vez, o deputado da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) pelo ciclo provincial do Zaire, Pedro Tanda, apoia Nsinsa e critica a atuação da PGR, sugerindo que a procuradoria está alinhada com os interesses do governador Mendes de Carvalho.
"O processo é público, vamos àPGR e ao SIC para sabermos o andamento. Fala-se de fundos e os fundos são públicos, como deputados isso nos interessa. Vamos lá saber se há transparência", garante.
Autoridades em silêncio
"Não podemos manter-nos calados face às acusações diretas feitas ao governador", continua o deputado. "Também não podemos admitir que diante destas denúncias se levantem processos de calúnia e difamação contra os ativistas".
Até ao momento, o governador Mendes de Carvalho não emitiu uma declaração pública sobre as alegações. A DW África tentou contactá-lo, mas não obteve resposta. Na segunda-feira (28.08), a DW voltou a contactar o gabinete de comunicação institucional e imprensa do Governo do Zaire, mas não teve resposta.
A situação continua a atrair atenção, levantando preocupações sobre a proteção dos ativistas que denunciam corrupção e a necessidade de um aprofundamento na investigação das alegações feitas por Nsinsa. A transparência e a imparcialidade são fatores cruciais neste cenário, conforme insta a opinião pública.