As dificuldades dos imigrantes africanos em Israel
27 de dezembro de 2016O caminho até chegar a Israel foi longo e muito difícil para Johny, de 28 anos. Ele resolveu deixar tudo para trás na Eritreia, foi para o Sudão e depois até ao Egito, tentando chegar a Israel.
Johny conta o que enfrentou nesse percurso: "Os beduínos fizeram-me refém na Península do Sinai, no Egito, durante seis meses. Fiquei sem tomar banho, passei pelas mais diversas atribulações para tentar entrar em Israel."
A vida após chegar a Israel também é difícil.
Omer Issa é um imigrante de 25 anos que deixou o Sudão do Sul: "Não faz ideia do que tive de suportar. Tive de trabalhar para pagar extorsões."
Or Mor, de 27 anos, é voluntário no Centro Comunitário Africano de Jerusalém, uma ONG que tem ajudado imigrantes em Israel. Para o jovem israelita, o grupo está a fazer algo que deveria ser feito pelo Governo, como obras sociais de ajuda para as vítimas de tráfico e tortura.
"Acreditamos que as pessoas deveriam receber uma ajuda maior", diz Or. "O apoio é muito pequeno. Aqui chegam diferentes tipos de casos: Mães solteiras, pessoas vítimas de tortura e traição, que não recebem apoio do Governo de Israel."
País de passagem?
Israel não é o destino final para a maioria dos imigrantes de África, mas eles dizem que encontram algumas vantagens no país - por exemplo, o facto de não precisarem de cruzar o Mar Mediterrâneo.
Muitos dos estrangeiros ilegais vivem sem reconhecimento da condição de refugiados e sem que o Estado avalie por que deixaram os países de origem.
Para o sul-sudanês Jack Tiguigui, de 32 anos, os imigrantes negros são tratados de forma diferente.
Jack esteve preso em Israel durante dois meses, logo depois de conseguir atravessar do Egito para Israel, dois países com fronteiras extramemente protegidas. "Foi algo muito difícil, diferente do que havia vivido", conta. "Apesar de tudo, vejo o Sudão como a minha casa, nós estamos a trabalhar, isso leva tempo. Nós queremos ir embora amanhã. Trabalhamos para voltar à nossa origem." Atualmente, Jack consegue um visto a cada dois meses para ficar temporariamente em Israel.
Governo israelita de braços cruzados
Duas instalações no meio do deserto de Neguev, no sul de Israel, servem de penitenciária para muitos imigrantes ilegais no país: A prisão de Holot e a de Saharonim.
Ambas são fortemente criticadas pelas Nações Unidas e por grupos de ajuda humanitária. Para a Amnistia Internacional, "deter refugiados, requerentes de asilo ou migrantes de forma indefinida no que é essencialmente uma prisão no deserto é uma violação flagrante da legislação internacional sobre direitos humanos."
A lei internacional proíbe que um país repatrie pessoas que sofrem ameaças em seu país de origem. É o caso da Eritreia, controlada por uma ditadura, e do Sudão, assolado por uma guerra civil.
Deportar ou não?
À DW, o Governo israelita informou que cada pedido de asilo é verificado individualmente e, portanto, não há tempo médio de revisão de cada solicitação.
Aproximadamente 64 mil imigrantes ilegais entraram no país, de acordo com um último levantamente feito pelas autoridades israelitas em 2016. Mais de 30 mil são da Eritreia.
Sabine Haddad, porta-voz da Autoridade responsável pela População e Imigração, disse à DW que Israel tomou temporariamente medidas para não deportar imigrantes eritreus para para o seu país.
Os migrantes ilegais que queiram sair de Israel para países terceiros ou para os seus países de origem recebem 3.500 dólares de assistência financeira e precisam de apresentar um documento de viagem válido: laissez-passer ou passaporte.