As apanhadoras de algas de Zanzibar
Elas passam horas a fio com os pés enterrados em água do mar. Vivem ao ritmo das marés, expostas ao sol e ao vento: As apanhadoras de algas de Zanzibar.
O seu futuro está no mar
Há quatro horas que Hamnipi Khamis pendura pequenas algas numa corda. Ela é uma de cerca de 15 mil mulheres que se dedicam à apanha de algas vermelhas, na ilha tanzaniana de Zanzibar. Esta planta é muito rica em valiosas substâncias utilizadas na indústria alimentar e cosmética, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, para onde são exportadas. Para Khamis, as algas são um meio de subsistência.
Ao ritmo das marés
A vida de Khamis é determinada pelo ritmo das marés. Quando a maré está baixa ela avança, colhendo as algas que pode e plantando novas, antes que a maré volte a subir. Um trabalho nada fácil: por vezes, Khamis tem que permanecer mais de seis horas com os pés na água salgada. Ela não sabe nadar, mas ama o mar. Porque é o mar que a alimenta.
O mar é a sua horta
Sandálias de pneu, um pau, um molho de cordas - são estes o equipamento e as ferramentas de Khamis. Todo o cuidado é pouco para não calcar um ouriço do mar. Também as conchas podem ser muito agudas e causar cortes dolorosos nos pés e nas mãos. A água salgada? Khamis, de 60 anos de idade e residente na aldeia de Kidoti, diz que já está habituada.
Colheita no Mar Índico
Uma por uma - é assim que Khamis pendura as pequenas, mas valiosas algas, prestes a serem semeadas. A sua "plantação" tem uma área de cerca de 25 metros quadrados. Depois de serem "plantadas", as algas pequenas têm seis semanas para crescer. Depois é altura de colher. Com alguma sorte e também muita sabedoria, as mulheres obtêm ótimos resultados: algas dez vezes mais pesadas!
Cottonii e eucheuma denticulatum
O mercado mundial prefere o tipo de algas "cotonii". Na ilha de Zanzibar existe ainda outro tipo: a "eucheuma". Medicamentos, pasta dentífrica, cremes cosméticos - as substâncias destas algas são imprescindíveis na produção desses produtos. As "carragenas", um ingrediente extraído das algas vermelhas com potencialidade de gelificação, na Europa são denominadas de E407.
O peso das algas
Um saco de algas pesa cerca de 50 quilos. Mas as algas têm que ser secas antes de ser embaladas e, neste processo, voltam a perder bastante peso, passando a pesar cerca de metade. Khamis recebe 160 schillings tanzanianos (cerca de 0,07 euros) por cada quilo de algas secas. Os maiores clientes das algas de Khamis são fábricas em França, Dinamarca, China e Estados Unidos da América.
Valor acrescentado
As algas reaparecem nas perfumarias europeias em forma de "sprays" e cremes para a revitalização da pele facial e outros produtos de luxo, muito procurados por clientes com elevado poder de compra. Assim, as algas aumentam consideravelmente o seu valor. Um creme à base de substancias extraídas de algas vermelhas pode custar 125 euros.
Sabão de Zanzibar
Khamis esforça-se por aumentar o seu lucro: ela faz parte de uma cooperativa de 20 mulheres, fundada em 1995, com o nome "Tusife Mojo" ("Desistir, nunca!"). O objetivo é a produção de sabões à base de algas, canela e eucalipto, que vendem por cerca de 0,45 euros por unidade. Khamis recomenda esse sabão, dizendo a quem quiser ouvir: "a minha pele parece veludo!"
Cravos, cardamomo, algas
A ilha de Zanzibar chegou a ser um dos maiores produtores de especiarias à base de cravos. Exportava também cardamomo, baunilha e canela. Hoje é o turismo que domina a economia. A apanha de algas também tem algum peso. Mais de 20 mil pessoas, sobretudo mulheres, dedicam-se, hoje em dia, ao cultivo de algas e outras plantas.
Uma vida melhor
A atividade de apanha de algas não enriquece Khamis, é certo. Mas as batas escolares para os seus seis filhos foram compradas precisamente com o dinheiro que ela ganhou com as algas. O marido de Khamis é vendedor de peixe, uma atividade que pouco lucro dá. Khamis deseja ter muita saúde para poder continuar a fazer este trabalho que é árduo, mas que lhe dá também algum prazer.