Armando Emílio Guebuza: Moçambique precisa de mais investimento de Portugal
2 de julho de 2014O chefe de Estado moçambicano, que está no final do seu segundo e último mandato, comentou também o conflito interno no seu país, frisando nesta terça-feira, na capital portuguesa, que a solução para a crise político-militar em Moçambique deve ser encontrada na mesa do diálogo». No encontro com o seu anfitrião, Cavaco Silva, Guebuza salientou ainda que o Governo da FRELIMO está empenhado em encontrar o caminho da paz com a RENAMO, principal força da oposição.
Guebuza: "Sem paz não há investimento"
Armando Emílio Guebuza defende a pacificação em Moçambique como uma das condições primordiais para a atração do investimento externo, quando é notório o crescimento económico do país, afetado pela crise político-militar entre o Governo da FRELIMO, partido no poder, e as forças da RENAMO, principal partido da oposição. O chefe de Estado moçambicano, que se faz acompanhar de cerca de 30 empresários, sublinhou o interesse de Moçambique em acolher mais investimento português: "Apesar da crise que aconteceu aqui na Europa, Portugal ainda pode investir mais , com vista a acelerar os processos de bem-estar mais abrangentes para os moçambicanos."
"Cooperação entre Portugal e Moçambique está bem e recomenda-se"
Esta última visita de Guebuza, essencialmente de natureza política, tem uma forte componente económica, pela importância que os dois países atribuem à cooperação bilateral, concretamente no plano comercial e empresarial. Após uma audiência, no Palácio de Belém, o seu homólogo português, Cavaco Silva, enalteceu as perspetivas de forte desenvolvimento de Moçambique que criam novas oportunidades de negócios entre empresas portuguesas e moçambicanas. O chefe de Estado de Portugal disse acreditar "que o desenvolvimento de parcerias entre empresas dos dois países possa contribuir para diversificar a economia moçambicana." Cavaco Silva salientou ainda que "Portugal estará sempre ao lado do desenvolvimentos de Moçambique, sobretudo agorar que o país assumirá a presidência do G19", ou seja o grupo dos doadores internacionais de ajuda àquele país africano .
Portugal, maior investidor estrangeiro
No primeiro trimestre de 2014, Portugal apresentou-se como o maior investidor estrangeiro em Moçambique. As parcerias empresariais entre os dois países contam com um suporte de 182 milhões de dólares, anunciados pelo Governo português. Portugal é igualmente um dos principais doadores do Orçamento do Estado moçambicano. Três meses depois da cimeira luso-moçambicana, realizada em Maputo, teve lugar, na terça-feira, o Fórum Empresarial, com a participação de cerca de 300 investidores de ambos os países. Em declarações à DW, o empresário português Pedro Correia, revela que procura novos parceiros para reforçar o investimento em Moçambique na agro-indústria. Pedro Correia disse à DW que "em Moçambique existem estrutras que podem apoiar aos investidores portugueses". O objetivo de todos seria "criar emprego e combater a pobreza".
Os empresários reconhecem que é necessário, entretanto, rever a política de vistos que facilite a circulação dos empresários nos dois sentidos.
Conflito não deve intimidar os investidores
Atendendo a atual crise na Europa Prakashi Prehlad, vice-presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) é de opinião que os portugueses deviam aproveitar de melhor forma o potencial existente em África. Por outro lado, a propósito da crise em Moçambique, reconhece que "nenhum investidor quer uma situação de conflito", mas diz-se esperançado que os empresários não se deixem intimidar e que "tenham esperança de que o conflito seja ultrapassado rápidamente".
No âmbito do próximo Programa Indicativo de Cooperação, Moçambique quer ver a cooperação desenvolver-se também na área social, com destaque para a formação, a educação, investigação e saúde. Este último setor apresenta ainda grandes debilidades em Moçambique, nomeadamente, tendo em conta as dificuldades para enfrentar dramas como a malária e outras doenças existentes em África, que afetam o desenvolvimento.
Temas internacionais foram também abordados
Cavaco Silva e Armando Guebuza falaram também da evolução positiva do processo de estabilização política na Guiné-Bissau, que deve ser festejada com a cautela necessária. Ambos os países acordaram trabalhar juntos para apoiar o país irmão, sendo este um dos pontos de agenda que Moçambique leva a cimeira de Díli, onde será feita a transferência da presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), para Timor-Leste.
Na qualidade de presidente em exercício da CPLP, Guebuza, que está na reta final do seu segundo e último mandato como chefe de Estado, foi recebido nesta quarta-feira (02.06) na sede da organização lusófona, onde falou sobre a presidência moçambicana e os grandes desafios do futuro da Comunidade que engloba oito países membros.