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ConflitosMédio Oriente

Após explosões de pagers no Líbano: Preocupação em Israel

DW (Deutsche Welle)
20 de setembro de 2024

Na terça-feira, centenas de pagers explodiram no Líbano, seguidos por muitas explosões de walkie-talkies no dia seguinte. Estará a caminho uma escalada entre Israel e o Líbano?

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Líbano
Uma ambulância após a explosão do pager nas ruas de BeiruteFoto: Anwar Amro/AFP/Getty Images

Pelo menos 12 mortos e cerca de 2800 feridos, muitos deles militantes do Hezbollah xiita, incluindo o embaixador iraniano no Líbano, Modschtaba Amani: esse foi o resultado das explosões simultâneas de centenas de pagers em várias partes do Líbano.

O Hezbollah usava os pagers - também conhecidos como "busca-pessoas" - pois, ao contrário dos telemóveis, estes não podem ser localizados. Segundo relatos da mídia, Israel poderia ter interceptado os pagers da marca Gold Apollo, os quais foram adulterados com explosivos. Esses dispositivos preparados foram então entregues ao Hezbollah e detonados intencionalmente. Tanto o Hezbollah quanto o Irão responsabilizam Israel pelo incidente.

Na quarta-feira, um dia após a explosão dos pagers, uma nova série de explosões de walkie-talkies matou pelo menos três pessoas e feriu mais de cem, conforme confirmado pela agência de notícias libanesa Ani e autoridades locais.

Ações israelitas?

Israelainda não assumiu oficialmente a responsabilidade pelas ações. No entanto, esses eventos ocorrem no contexto de um confronto violento entre Israel e o Hezbollah, que se desenrola desde 7 de outubro do ano anterior, quando a organização militante islâmica Hamas atacou o território israelita, matando cerca de 1200 pessoas e fazendo 250 reféns. Em solidariedade ao Hamas, o Hezbollah bombardeou a área fronteiriça no norte de Israel, o que levou 60.000 israelitas a abandonar as suas casas. Do lado libanês, cerca de 110.000 pessoas também fugiram para outras partes do país.

Restos de um pager explodido
Restos de um pager explodidoFoto: Balkis Press/ABACA/IMAGO

Os meios de comunicação israelitas, em sua maioria, acreditam que Israel foi responsável pelo ataque. O jornal Haaretz afirmou que a decisão de explodir os pagers foi tomada de forma rápida, inicialmente planejada para ocorrer durante um confronto maior. Contudo, aparentemente, dois membros do Hezbollah perceberam que os pagers haviam sido adulterados, levando Israel a antecipar as explosões. Haaretz destacou que "as unidades operacionais do Hezbollah foram gravemente atingidas", aumentando o clima de insegurança na organização e prejudicando o seu sistema de comando e controlo.

Diplomacia fracassada entre Israel e o Hezbollah

Segundo Gil Murciano, diretor executivo do Instituto Israelita de Políticas Regionais (Mitvim), Israel realizou essa operação num contexto em que uma solução diplomática com o Hezbollah parece impossível. Embora os pagers tenham sido detonados antes do previsto, "Israel deixou claro que está disposto a escalar o conflito como parte de um estado de guerra aberto". A mensagem para o Hezbollah é que "Israel usará todos os meios possíveis para enfraquecer sua capacidade militar".

O jornalista Ronnie Chatah, baseado em Beirute, acredita que, embora o Hezbollah tenha sofrido perdas, é improvável que a organização retalie em grande escala, evitando um novo conflito como os de 2006 ou 1982. O conflito, por enquanto, deve permanecer focado em alvos militares.

Papel dos EUA

A operação ocorreu no momento em que Amos Hochstein, conselheiro político do presidente dos EUA, Joe Biden, visitava a região numa tentativa de evitar uma guerra entre Israel e o Hezbollah. Ele teve reuniões com líderes israelitas para dissuadir Israel de lançar uma grande ofensiva contra o Hezbollah. Hochstein também tinha planos de se encontrar com representantes do governo libanês, que deveriam, por sua vez, negociar com o Hezbollah. Não se sabe se Hochstein estava ciente da operação dos pagers, mas o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, havia informado seu homólogo americano, Lloyd Austin, sobre um ataque iminente, sem fornecer detalhes.

Gil Murciano acredita que a operação não afetará as relações entre Israel e os EUA, pois "os americanos disseram que não estavam informados sobre o ataque". No entanto, o jornalista Ronnie Chatah afirma que os EUA enfrentam um problema no Líbano: não têm um interlocutor capaz de resolver o conflito com o Hezbollah de maneira benéfica para o país.

O futuro do conflito permanece incerto, com o jornal Haaretz observando que "o ataque expôs a fraqueza do Hezbollah e humilhou seus líderes", mas advertindo que "esse tipo de incidente raramente termina de forma tranquila no Oriente Médio".

Líbano: Explosões de pagers e walkie-talkies inquietam