Angola: Rafael Marques lança Ufolo
22 de janeiro de 2020O debate público contou com a intervenção e o apoio de diversas personalidades, como os rappers e ativistas MCK e Luaty Beirão.
O UFOLO - Centro de Estudos para a Boa Governação - pretende dedicar-se a "atividades que contribuem para fazer da sociedade civil um agente ativo, com intervenção real nas ações do poder político e com influência efetiva sobre as políticas e as atitudes que determinam o futuro do país."
É assim que se apresenta a mais nova organização não governamental (ONG) angolana. Rafael Marques de Morais, presidente do UFOLO, entende que há necessidade de criação, pelo Governo angolano, de um fundo nacional de apoio à sociedade civil e destacou a importância do papel da mesma.
"Porque é essencial. Sem uma sociedade civil forte, não teremos partidos políticos fortes, não teremos partidos políticos mais dedicados ao serviço público. Porque são muitos anos de guerra, muitos anos de ditadura e temos de reconstruir o tecido da sociedade civil, que é o tecido da sociedade angolana", argumentou.
Colóquio "Juventude em Ação"
Para o lançamento do UFOLO, esta quarta-feira (22.02), em Luanda a organização realizou o colóquio "Juventude em Ação”, que abordou temas como o poder da juventude, criminalidade, desemprego e políticas económicas.
O debate público contou com a intervenção de diversas personalidades, como o rapper MCK que, à agência Lusa, elogiou a iniciativa e pontuou sua importância.
"[Num passado muito recente,] as relações com José Eduardo dos Santos [ex-Presidente de Angola] eram muito de repressão, de confrontação ou de submissão, então o novo cenário nos permite criar fóruns como esse, onde se pode potenciar os jovens e acima de tudo a sociedade civil, para aqueles que são os temas e assuntos mais relevantes que dizem respeiro a todos.
"Luanda Leaks" também foi assunto
O ativista e ‘rapper‘ Luaty Beirão, tantas vezes perseguido e intimidado durantes os anos do regime do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, também foi um dos destaques e não se furtou a comentar as revelações da investigação „Luanda Leaks” que apontam o envolvimento de Isabel dos Santos em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro.
"Ela insiste sempre no mesmo: é uma perseguição política, é uma caça às bruxas e não vai ser um julgamento justo. Não posso dizer que vai ser um julgamento justo porque também não confio no sistema de justiça. Quero acreditar, quero que cheguemos lá, mas estaria a ser falso se dissesse que o sistema de justiça já é plenamente confiável. Não é, não será para agora, vai levar o seu tempo, infelizmente é assim. Agora, cometeu tem que cumprir. Se não cometeu, venha se defender."
Governantes não estão habituados a transparência
Para Luaty Beirão, a luta contra a corrupção só pode ser minimamente bem sucedida se for acompanhada de abertura e transparência. A cobrança ficaria a cargo da sociedade civil.
"Infelizmente estas pessoas que governaram e continuam a governar o país até agora não estão habituadas a ser transparentes. Então, é um exercício também para eles. Nós, como sociedade, temos de persistir e insistir para que essa transparência passe a existir. Ainda não há e, quando não há transparência, há dúvida", referiu.
Também marcaram presença no lançamento do UFOLO - Centro de Estudos para a Boa Governação a 'rapper' Eva Rap Diva, o economista Yuri Quixina, o jurista Rui Verde, a socióloga Tânia de Carvalho, entre outros.