Processo contra jornalistas é 'sinal' da nova legislação
29 de dezembro de 2016O diretor do jornal angolano "O Crime", Mariano Brás, foi interrogado na quarta-feira (28.12) por republicar uma matéria de Rafael Marques, em que o jornalista acusava o Procurador-Geral da República, João Maria de Sousa, de estar "envolvido em corrupção".
O artigo de Marques foi publicado em outubro no portal Maka Angola e "O Crime" republicou o artigo em novembro: "Publicámos a matéria e mencionámos a fonte, que é o site, está lá tudo estampado. É um texto de opinião em que não alterámos uma vírgula."
Brás foi constituído arguido, tal como Marques, que é acusado de injúria.
"Sinais da nova Lei de Imprensa"
No entender de Mariano Brás, este processo é um sinal de "novos tempos". Para o diretor d'"O Crime", será já um sinal da perseguição que os profissionais de comunicação poderão sofrer com a nova Lei de Imprensa, aprovada na Assembleia Nacional angolana a 18 de novembro.
"São os sinais da nova Lei de Imprensa", afirma. É claramente uma perseguição que vamos sofrer, vinda já do Procurador-Geral da República. Devemos ficar atentos a estes sinais. Vejamos, não fomos o único órgão a retomar esta matéria, outros órgãos também a retomaram, mas só "O Crime" foi notificado, o que dá para ver que há uma perseguição ao jornal em particular."
Mariano Brás não espera isenção da Procuradoria, mas diz que os profissionais da comunicação não devem ceder.
"Quem está a instruir o processo é uma procuradora que depende do Procurador-Geral da República, logo não se espera imparcialidade. O pior é que o procurador apresenta queixa na condição de procurador e não de cidadão", afirma Brás. Além disso, o diretor d'"O Crime" frisa que não vê na história do jornalismo angolano um profissional que tenha ido a tribunal e tenha saído absolvido.