Angola: Polícia reprime protesto em Luanda
27 de agosto de 2022A polícia reprimiu, este sábado (27.08), os manifestantes que se preparavam para marchar do Largo da Independência até ao perímetro do Palácio Presidencial, na Cidade Alta, em Luanda, onde o maior partido da oposição venceu as eleições, segundo os dados divulgados, recentemente, pela Comissão Nacional de Eleições (CNE). Vários jovens foram detidos e agredidos.
Nas ruas, vários angolanos reconhecem o partido do galo negro como o vencedor das eleições gerais e já consideram Adalberto Costa Júnior o seu Presidente da República. Na noite de sexta-feira, como aconteceuem vários pontos do país, também na centralidade do Kilamba e no bairro Benfica, houve gritos de apoio ao partido,após as declarações do líder da UNITA.
Forte aparato policial em Luanda
No centro da cidade, a polícia angolana está a dispersar com uso da força todas aglomerações de jovens. O Largo da Independência, o ponto das manifestações em Luanda, está sob um cordão policial que impede o acesso de qualquer cidadão.
Joyce Cossi, uma das jovens que pretendia participar na manifestação que exige a "verdade eleitoral", afirma que "não há cabidela" para o MPLA comemorar a vitória eleitoral.
"Em todo o país, nenhum cidadão quer o MPLA no poder, principalmente o próprio João Lourenço que confronta a UNITA. Essa luta já não é entre partidos. Esta é a luta do povo contra o MPLA, porque a população já não quer o MPLA no poder".
A estudante de enfermagem diz que não é justo o MPLA insistir em manter-se no poder. "Estamos num país democrático. Por isso, tem que haver alternância do poder. Angola não é um reinado onde tem um rei e uma rainha. Aqui é só MPLA. Saí Zedu e entra João Lourenço e sempre o MPLA”.
Em 2020, a juventude angolana lançou a campanha "João Lourenço, em 2022 vais gostar" , mensagem pelo qual alertavam que o partido no poder não contaria com o seu voto.
"Nós já o avisamos que o MPLA vai gostar e nestas eleições gostou porque a maior parte dos angolanos não votou no João Lourenço. Como é hábito o MPLA vencer por fraude não consegue festejar", sublinhou Joyce.
Nas ruas de Luanda, a presença do aparato policial é notável. A cidade está calma, apesar das sirenes dos carros da polícia nacional.
Um jovem que se identifica por Paulo afirma que votou contra a "má governação e contra a miséria" em Angola. Por isso, foi à rua exigir a transparência eleitoral.
"Os resultados apresentados nestas eleições não são verídicos. Não queremos mais este sistema que nos governa. Não queremos que os nossos filhos vivam na miséria num país que é deles. Estamos cansados do MPLA".
Pinto, outro manifestante com quem a DW falou, afirma que as autoridades violam constantemente a lei com a repressão dos protestos contra o Governo.
"MPLA usou o corpo do ex-Presidente"
"A manifestação é um direito que temos e que indiretamente nos é tirado porque as manifestações são boicotadas como no dia de hoje. Percebemos que o MPLA usou o corpo do ex-Presidente José Eduardo dos Santos para contrapor a nossa manifestação".
Passam quase dois dias desde que a CNE divulgou os mais de 97 por cento dos resultados provisórios que dão vitória ao MPLA. A população aguarda com expectativa o anúncio dos dados definitivos.
Para além da UNITA e a CASA-CE, que perdeu os 16 deputados eleitos em 2017, o Partido de Renovação Social, o terceiro mais votado nestas eleições, também não reconhece os votos validados pela Comissão Nacional Eleitoral.
Os eleitores afirmam que a vitória do MPLA resulta da partidarização da administração eleitoral de Angola.
"Se os resultados da CNE não coincidem com os apresentados pela oposição, porque é que a CNE insiste nestes resultados? Nós, o povo não aceitamos. O MPLA não ganhou as eleições e não vai ganhar as eleições", disse um jovem que escapou da detenção.
Os jovens angolanos alertam que João Lourenço terá uma governação marcada por protestos, caso a CNE valide a sua vitória.
"Já houve muitas detenções. Pelo número de pessoas deitadas, se estivessem aqui, teria muita gente a manifestar. Mas a polícia está a bater mesmo. Assistimos uma jovem a ser brutalmente espancada e foi levada", denunciou um outro jovem.