"O pior da crise económica em Angola já passou": analista
2 de janeiro de 2017A Economist Intelligence Unit (EIU), uma divisão de análise e pesquisa do grupo britânico "The Economist", prevê para Angola uma taxa de crescimento de 3 % em 2017, que dependerá do aumento do preço do petróleo. No seu último relatório sobre o país, a unidade prevê que a medida em que o preço do petróleo recuperar, um crescimento ligeiramente maior da despesa pública e do consumo privado devem fazer subir a taxa de crescimento. A DW África entrevistou Paulo Inglês, investigador angolano da Universidade de Munique, na Alemanha, sobre as projeções para o país no ano que agora começa.
DW África: Em termos económicos, o que prevê para Angola em 2017?
Paulo Inglês (PI): Uma vez que Angola ainda está dependente da produção de petróleo, a expetativa em relação à economia angolana ainda está também dependente do comportamento dos mercados financeiros, sobretudo da indústria extrativa, do petróleo e do diamante, mas principalmente do petróleo. Apesar do Governo ter desenhado um plano para diversificar a economia, por exemplo na agricultura e nos setores de serviços, isso ainda não teve um impacto grande na economia angolana. Agora, está a haver uma mudança no preço do petróleo nos mercados internacionais e também há a perspetiva da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) controlar a produção de petróleo, baixar, e isso vai permitir aumentar o preço do petróleo e Angola pode ganhar com isso.
DW África: As eleições presidenciais devem acontecer num ano (2017) ainda de profunda crise económica e financeira. Qual é a influência que pode ter sobre a percepção da crise?
PI: A crise é que pode influenciar o debate público. E nesse sentido há uma expetativa sobre como o Governo vai gerir isso. Não creio que venha a haver uma espécie de agitação social em grande escala porque ainda existe a cultura do medo e também uma contenção por parte das pessoas em confrontar ou afrontar as forças de segurança ou a polícia. Portanto, nesse ponto de vista acho que não se espera muito...
DW África: É que em época eleitoral investe-se muito dinheiro em campanhas de caça ao voto. Isso pode tornar a crise menos percetível para a população? É nesse sentido que perguntamos, porque nessa altura aparece sempre dinheiro...
PI: Sim, aparece. Imagino que o Governo tenha feito alguns empréstimos a China. A ideia era poder pagar os salários, muitos funcionários públicos não receberam os seus salários de dezembro de 2016. A polícia, acho que os militares [receberam os salários] e acho que alguns receberam parte. Mas falei com professores e muitos deles ainda não receberam, pelo menos até o dia 30 de dezembro não tinham recebido. Será que o Governo está a juntar algum dinheiro para depois gastar em época de campanha, nos últimos três quatro meses antes das eleições? Pode ser que sim, mas por outro lado os angolanos estão melhor informados sobre o que se passa, não sei se ainda vão cair nesse engodo da campanha eleitoral e algum dinheiro para depois, a seguir as eleições, continuarem na mesma. Agora, o certo é que o Governo vai usar algum dinheiro para dar a sensação de que a crise terá sido ultrapassada, isso de certeza que vai fazer.
DW África: A Economist Inteligence Unit prevê protestos e repressão das autoridades angolanas face as dificuldades orçamentais que o Governo atravessa e a proximidade das eleições. O senhor Paulo Inglês prevê também situações de instabilidade social para este ano, face a este quadro?
PI: No ano passado também houve essa projeção, o que não aconteceu. Acho que o pior da crise foi em 2016, que agora está também desanuviada, acho que agora há um certo desanuviamento. É claro que ainda não se está no nível em que se esteve nos anos anteriores, 2012 e 2013, mas também não se está naquele nível que se esteve em finais de 2015 e todo 2016. Não sei se esta contestação a que eles se referem poder-se-á cumprir. Por outro lado, se o preço do petróleo continuar a subir, como se prevê, é claro que isso vai aumentar as receitas do Estado e isso vai também poder contornar ou palear os efeitos da crise.