Minicimeira de Luanda apela ao cessar-fogo na RCA
16 de setembro de 2021No discurso de abertura da minicimeira de Luanda sobre a República Centro-Africana (RCA), o Presidente angolano, João Lourenço, manifestou a sua preocupação pelo embargo de armas ao país.
"A RCA está a viver um contexto político interno diferente, [...] sendo que a prevalência desta situação impede as autoridades centro-africanas de usufruir das capacidades necessárias para garantir a sua própria segurança", referiu o chefe de Estado, que é também presidente em exercício da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).
João Lourenço encorajou o chefe de Estado da RCA, Faustin-Archange Touadéra, a "continuar com a força de vontade e compromisso que tem demonstrado, assumindo e liderando este processo de paz", capitalizando os esforços de negociação que têm sido levados a cabo.
"Num momento em que assistimos ao recrudescer das ações de terrorismo na região do Sahel, ao ressurgimento do fenómeno do mercenarismo e à alteração da ordem constitucional por via de golpes de Estado na África do Oeste, como no Mali e mais recentemente na Guiné, a República Centro-Africana não deve perder esta oportunidade que se lhe oferece de alcançar a paz", advogou Lourenço esta quinta-feira (16.09).
Altas-figuras apelam ao cessar-fogo
No encontro participaram os Presidentes da República do Congo, Sassou Nguesso, e da RCA, Faustin-Archange Touadéra, os presidentes do Conselho Militar de Transição da República do Chade, Mahamat Idriss Déby, e da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, e representantes dos chefes de Estado dos Camarões, Sudão, República Democrática do Congo (RDCongo) e Ruanda.
No comunicado final da reunião, lido pelo chefe da diplomacia angolana, Téte António, os altos representantes dos países congratulam-se com a evolução positiva da situação política e militar na RCA e recomendaram um cessar-fogo imediato no país.
"A declaração de cessar-fogo por parte do governo da RCA o mais urgente possível, tendo em conta o compromisso assumido pelos líderes dos grupos armados, sendo o cessar-fogo um fator imprescindível para o sucesso de todo o processo e a criação de um clima propício para paz e a reconciliação nacional", lê-se no documento.
Estima-se que um em cada quatro habitantes da RCA tenha sido obrigado a fugir por causa do conflito, que começou em 2013, depois da queda de François Bozizé. O Presidente foi derrubado por grupos armados juntos na Séléka, a que se opuseram as milícias anti-balaka.
Diálogo como solução
O angolano Osvaldo Mboco, professor de Relações Internacionais, considera que as conversações são fundamentais para a resolução deste conflito, sendo que o encontro desta quinta-feira "demonstra claramente que é necessário a continuidade do diálogo e da busca de soluções dos vários problemas a nível da região".
"Angola vem jogando um papel significativo sobre essa matéria, daí a necessidade de se reunir com regularidade com outros Estados que estão na própria região, porque só na base do diálogo, só na base destes encontros, é que se poderá encontrar soluções que, de facto, são impactantes para os problemas da República Centro-Africana", considerou o especialista.
No encontro em Luanda, João Lourenço voltou ainda a juntar a sua voz ao coro de políticos que condenaram o golpe de Estado na Guiné-Conacri. Os líderes da região pediram a libertação "imediata e incondicional" do Presidente deposto, Alpha Condé.