Angola: Mais um caso de censura agita a classe jornalística
3 de outubro de 2011Uma entrevista com o economista e docente universitário Vicente Pinto de Andrade foi vetada pelos proprietários do jornal "A Capital" por ser supostamente crítica ao regime do presidente angolano José Eduardo dos Santos.
O censurado promete processar a publicação, numa altura em que - em época pré-eleitoral - mais pessoas criticaram a prática da censura de políticos em Angola.
A revanche
De acordo com uma fonte ligada ao semanário de Luanda, problemas técnicos não justificam as cerca de quatro páginas que apareceram em branco nesta última edição do jornal "A Capital".
Segundo a fonte, a direção do semanário decidiu colocar a entrevista do economista de lado por ele ter abordado, dentre vários assuntos, aspectos ligados a actual situação política económica e social do país.
Vicente Pinto de Andrade disse à Rádio Ecclesia que vai responsabilizar judicialmente todas as pessoas envolvidas neste ato, que ele chamou de violação dos direitos dos cidadãos.
Na opinião dele, isso mostra que em Angola ainda é preciso fazer muito para que se aprofunde a democracia.
A procuradoria
O docente universitário e jornalista Celso Malavoloneke disse que já é altura da Procuradoria-Geral da República de Angola repôr a legalidade: "Em alguns casos, a procuradoria convenientemente fecha os olhos e em outros, abre-os demais".
Para ele, esta imagem passada de dois pesos e duas medidas, em Angola, pode prejudicar a imagem do país.
O sindicato
O sindicato dos jornalistas angolanos, na voz da secretária-geral Luísa Rogério, considerou este acto uma clara violação da liberdade.
O jornalista e analista político Reginaldo Silva considerou legítima a posição do economista de querer responsabilizar os envolvidos: "[Primeiro] lhe pedem uma entrevista, [ele] perde seu tempo, esmera-se em produzir o melhor pensamento possível e depois eles não publicam a entrevista? Isso não existe", desabafa Silva.
"A Capital" mudou de dono
Em meados de 2010, três dos mais importantes jornais privados angolanos foram comprados pelo grupo Media Investments - de capitais privados angolanos. Incluso nesta lista estava o "A Capital".
Em comunicado distribuído à imprensa, na altura, o grupo de capitais privados referiu que se tratou de uma "transacção normal ditada exclusivamente por factores de mercado".
Na época, o valor de aquisição dos semanários não foi revelado. A única informação publicada foi que o formato gráfico, o editorial e a periodicidade dos mesmos não seriam alterados.
Autor: Manuel Vieira
Edição: Bettina Riffel / António Cascais