Angola: Mais carros de luxo em tempo de crise
20 de abril de 2018O Governo angolano prevê gastar mais de 42,5 mil milhões de kwanzas (cerca de 157,5 milhões de euros) na aquisição de mais de 1.034 viaturas de serviço de diferentes gamas. O Presidente João Lourenço ordenou a abertura de um concurso público, que termina a 7 de maio, para a compra dos veículos destinados a membros do Executivo.
A oposição apela, no entanto, à contenção de custos em tempo de crise económica e financeira.
"Há aqui uma contradição entre o que se diz e o que se pratica. Muitos têm as suas viaturas protocolares e as de uso pessoal. Portanto, no quadro das restrições, devia haver mais cuidado relativamente a esta matéria", comenta Alcides Sakala deputado e porta-voz da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição.
"Há prioridades sociais que é preciso cobrir nas circunstâncias atuais, na área da Saúde e da Educação", refere.
Crise em Angola
Desde 2015 que o país é assolado por uma crise económica e financeira resultante da baixa do preço do petróleo no mercado internacional. Consequentemente, o preço dos principais produtos básicos subiu e o desemprego aumentou.
"Devemos reconhecer que o país está numa fase difícil e todo o exercício deve-se circunscrever à austeridade e poupança para evitar que o país caia num colapso", afirma Manuel Fernandes, economista e deputado da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), a segunda maior força da oposição.
Ainda assim, o deputado sublinha que é preciso conferir alguma dignidade aos titulares de cargos públicos.
"Também é preciso que se criem condições para os responsáveis indicados para os departamentos ministeriais e não só", diz Fernandes.
Polémicas antigas
Não é a primeira vez que a aquisição de viaturas de topo de gama para titulares de cargos públicos gera polémica em Angola.
O anúncio, em 2017, da compra de mais de 200 viaturas de luxo para os deputados angolanos da presente legislatura causou uma onda de indignação em Angola. Em novembro, o Parlamento anunciou que recuou na intenção.
Na altura, em declarações a DW África, Osvaldo Mboco, analista político e professor universitário afirmou que, em tempo de crise, todos deviam consentir sacrifícios.
"É fundamental que se adquira carros mais baratos", disse na altura. "Se o país está a atravessar uma crise económica e financeira e se exige por parte do povo atos de sacrifício, é fundamental que os nossos representantes, os deputados e o próprio Executivo, também façam esses sacrifícios."
A verdade é que, em janeiro de 2018, os deputados saídos das eleições de 23 de agosto começaram a receber viaturas de marca Lexus, modelo ES, cujo preço médio ronda os 85 mil dólares (cerca de 69 mil euros).