Eleições em Angola: Indra rejeita acusações da UNITA
21 de fevereiro de 2022"A proposta da Minsait [filial da Indra] foi eleita por unanimidade na Comissão Avaliadora da Comissão Nacional Eleitoral de Angola, integrada por representantes de todos os partidos políticos do país, ou seja, o mesmo partido que anuncia que vai impugnar a seleção da Minsait escolheu a proposta da Minsait", disse esta segunda-feira (21.02) uma fonte da Indra à agência espanhola de notícias, EFE.
"A empresa nunca recebeu sanções, administrativas ou penais, por causas relacionadas com a prestação dos seus serviços", acrescentou a mesma fonte, na resposta às acusações públicas feitas por dirigentes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que afirmaram que a Indra foi condenada em Espanha por ter "práticas fraudulentas" nas eleições angolanas de 2012.
A imprensa angolana relaciona as acusações feitas pela UNITA e por outros associações cívicas com uma sanção imposta pela Autoridade Tributária, o fisco espanhol, por custos não justificados relativos à organização das eleições de 2012, que foram detetados numa inspeção fiscal ao grupo, que terminou em 2018.
"A multa é puramente de caráter fiscal, não está relacionada com práticas fraudulentas nem nada parecido, é apenas consequência de não ter sido possível justificar algumas faturas aportando um suporte documental", disse a fonte da empresa espanhola que falou à EFE.
Impugnação
A UNITA anunciou na semana passada que vai impugnar o concurso público em que a empresa espanhola Indra foi contratada para gerir o sistema tecnológico das eleições gerais previstas para agosto e pediu uma audição parlamentar à comissão eleitoral.
Segundo o presidente do grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiyaka, a impugnação do concurso promovido pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) surge porque a "conduta da Indra tem prejudicado a transparência eleitoral".
"A lei n.º41/2020 de 23 de dezembro estabelece princípios e regras que, em nosso entender, foram violados no concurso público realizado pela CNE", afirmou Liberty Chiayaka durante uma conferência de imprensa, em Luanda, dia 16.
O político da UNITA referiu então que, nos termos do artigo 9.º da Lei da Contratação Pública, os interessados em procedimentos da contratação pública não podem envolver-se, participar ou apoiar práticas corruptas e fraudulentas, tais como a declaração intencional de factos falsos".
Para a UNITA, a Indra, "condenada em Espanha por práticas fraudulentas", terá "declarado intencionalmente factos falsos ou errados para participar do concurso realizado pela CNE, visando impedir a participação de outros interessados e restringir a concorrência".
O critério "exigido pela CNE de experiência em fornecimento e prestação de bens e serviços em países da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral], por mais de 10 anos, para além de ser ilegal, violar o princípio da igualdade, de igual modo, contraria os princípios legais no que diz respeito à concorrência e a proibição de práticas restritivas da concorrência", apontou.
Empresa foi contestada anos anteriores
A Indra tem sido contestada pelos partidos políticos na oposição e pela sociedade civil angolana por alegadamente "viciar os resultados" das eleições em Angola, realizadas em 2008, 2012 e 2017.
As próximas eleições gerais em Angola estão previstas para a segunda quinzena de agosto de 2022 e a Indra foi a empresa escolhida pela CNE, através de concurso público, para fornecer a solução tecnológica que engloba a contagem provisória e a contagem final de todos os votos registados nas eleições gerais.
A Indra garantiu, em comunicado enviado na segunda-feira à Lusa, que o processo eleitoral em Angola será conduzido "de forma profissional e transparente".
O porta-voz da CNE, Lucas Quilundo, disse já em fevereiro que o afastamento da outra empresa concorrente, SmartMatic, se deveu ao incumprimento das regras do concurso e descartou que a escolha da Indra comprometa a "lisura" do processo eleitoral, apesar da oposição angolana contestar a opção por alegações de fraude.
Transparência eleitoral
O grupo parlamentar da UNITA apresentou na semana passada "iniciativas político-legislativas no quadro da transparência eleitoral", garantindo "produzir leis, que tiverem de ser produzidas, e desenvolver com o povo ações de fiscalização e controlo permanente do processo eleitoral".
A UNITA deu conta também que, no quadro da ação fiscalizadora, remeteu ao presidente da Assembleia Nacional dois requerimentos, nomeadamente um para a "constituição imediata de uma comissão especial (eventual) para acompanhar a boa organização das eleições".
Uma audição parlamentar ao presidente e ao plenário da CNE, por uma das comissões especializadas da Assembleia Nacional, foram igualmente requeridas pelo partido do "galo negro". "Nesta base, achamos que a Assembleia Nacional também pode e deve ter um papel mais interventivo no acompanhamento e controlo do processo, no âmbito material do exercício da sua competência de controlo e fiscalização da boa execução da lei eleitoral", frisou Liberty Chiyaka.
A UNITA solicitou também, em sede do parlamento, uma discussão, para 24 de fevereiro, sobre a greve dos professores do ensino superior, "um assunto relevante e urgente", e uma discussão para 02 de março próximo sobre o "tratamento desigual" dos partidos políticos na imprensa pública.