Angola: Cruz Vermelha recolhe donativos para vítimas da seca
8 de maio de 2019A Cruz Vermelha lançou uma campanha de recolha de bens de primeira necessidade para ajudar as vítimas da seca na província do Cunene, a mais afetada pela calamidade. Iniciada a 30 de abril, a campanha termina a 21 de maio e visa, nesta primeira fase, receber apoio de populares e empresas na província.
Em declarações à DW África, a delegada daquela organização humanitária no Cunene, Regina Olga Francisco, disse que a instituição lançou um apelo internacional, mas ainda não teve resposta.
Na carta enviada para algumas empresas que a DW teve acesso, o Secretariado Provincial da Cruz Vermelha no Cunene, pede apoio de toda a sociedade para ajudar as várias famílias a enfrentar inúmeros problemas causados pela seca na região.
As mortes de animais, a ausência de produção agrícola, bem como a destruição dos solos, que servem de base económica nas zonas rurais, são os efeitos visíveis da estiagem que assola o sul do país, segundo a instituição.
"Temos vivido uma situação muito crítica", conta Regina Olga Francisco. "Fizemos um apelo internacional e notamos que há muita demora. Por isso, decidimos não esperar a resposta. Com o pouco que temos ou com o que a população tem para ajudar as comunidades carentes, vamos dar a nossa contribuição", disse à DW África a responsável.
Cesta básica e vestuário constam da lista dos donativos que estão a ser recolhidos na cidade de Ondjiva, capital do Cunene. "Até agora ainda não recebemos nenhum dos bens que solicitamos, e continuamos à espera. Na segunda-feira (06.05), fomos informados que as empresas estão prontas a doar", conta a delegada da Cruz Vermelha.
João Lourenço anuncia mais apoios
O Presidente angolano anunciou o envio para muito em breve de um "visível reforço dos meios de socorro" para combater os efeitos da grave seca que está a assolar as províncias do Namibe e do Cunene. Segundo uma nota da Casa Civil da Presidência angolana, a decisão foi tomada numa reunião em que João Lourenço recebeu na passada sexta-feira, no Palácio Presidencial, ministros de várias pastas e os governadores das duas províncias mais assoladas pela seca, que já atinge cerca e 300 mil famílias.
Mas, segundo as populações afetadas, o apoio devia chegar mais cedo. As dificuldades já se sentem na capital da província do Cunene, onde se registam várias falhas na distribuição da água. "Aqui na cidade já não estamos a receber água como antes. As pessoas que estão a 10 a 25 quilómetros da cidade, estão a sentir mais na pele do que nós que estamos aqui nesta vila", relata Virgílio Neto, residente na cidade de Ondjiva.
O munícipe contou ainda à DW África que, devido à fome, há crianças que estão a trocar escola pela venda ambulante no centro da cidade. "Temos assistido a populares a fugirem das suas zonas para o centro da cidade. Os miúdos estão fora do sistema do ensino. Miúdos de nove e oito anos a venderem ovos na zunga. A situação é difícil. O que estamos a ver na televisão não condiz com a realidade", sublinha.
Mortes por má nutrição
Segundo a Lusa, a má nutrição no Cunene terá provocado até agora 36 mortes em crianças com idades compreendidas entre os seis meses e os cinco anos no primeiro trimestre deste ano. De acordo com o supervisor do programa de combate à má nutrição do gabinete provincial de saúde, Teófilo Emílio, citado pelo Jornal de Angola, o número de mortes representa um aumento significativo comparativamente ao mesmo período do ano passado, altura em que foram registados dez óbitos.
Teófilo Emílio referiu que este aumento se deve à chegada tardia dos doentes às unidades de tratamento, aliada ainda à falta de produtos terapêuticos. O responsável sanitário acrescentou que de janeiro a março foram registados 742 casos de má nutrição, enquanto em 2017, no mesmo período, foram notificados 1.538 casos.
A insegurança alimentar, o desmame precoce e as doenças diarreicas agudas, bem como a falta de agentes comunitários para a identificação de casos foram apontados como fatores relevantes no registo de casos, prevenção e combate à doença.
O secretário da UNITA no Cunene, Torga Pangeiko, defende que João Lourenço deveria realizar visitas surpresa às zonas assoladas pela seca e não depender de programas das administrações locais, que normalmente só mostram às autoridades centrais situações menos complicadas.
"Já há relato de mortes de pessoas, não tenho dados, mas há este relato principalmente na Ombandja e no Curoca. Penso que o Presidente da República devia criar um calendário próprio e não andar à sombra daqueles que estão aqui, porque de certeza, quando se aperceberam da vinda do Presidente, movimentaram algumas máquinas para perfuração, atén onde levaram o Presidente", afirma o líder do maior partido da oposição no Cunene.