Angola com quinto maior orçamento militar em África em 2021
7 de setembro de 2022A Nigéria, cada vez mais preocupada com a segurança no país, comprou à China um carregamento de carros de combate, há poucos meses. Já no início de 2020, o Governo tinha encomendado 15 veículos militares chineses para modernizar as Forças Armadas nacionais.
Segundo o Instituto para a Investigação da Paz com sede em Estocolmo (SIPRI), Abuja gastou mais em armamento em 2021 do que qualquer outro país da África subsaariana: 4,5 mil milhões de dólares, ou seja, um aumento de 56% em relação ao ano anterior.
Este ano, a Nigéria está a gastar ainda mais dinheiro, de acordo com a mais recente publicação do Global Firepower Index (GFP), uma página online norte-americana que publica um ranking anual das Forças Armadas do mundo. Para compilar o índice, são observados 142 países e tidos em conta mais de 50 critérios – incluindo o orçamento militar.
O GFP também já tem disponíveis os orçamentos do ano corrente, em parte com base em estimativas. Estas indicam que a Nigéria investirá o equivalente a mais de 5,9 mil milhões de dólares americanos nas suas Forças Armadas em 2022, colocando-a à frente da África do Sul, com 2,9 mil milhões, e do Quénia, com pouco menos de 1,2 mil milhões de dólares norte-americanos.
Muitos países africanos aumentam as despesas militares
Os países africanos aumentaram as suas despesas militares no ano passado de uma forma global, apesar da recessão económica causada pela pandemia da Covid-19, diz Darren Olivier, diretor da African Defence Review, uma empresa de comunicação social independente especializada em conflitos e defesa em África.
Segundo um relatório do SIPRI publicado em abril, as despesas em toda a África aumentaram 1,2% em 2021 em comparação com 2020, gastando o equivalente a 39,7 mil milhões de dólares em equipamento militar.
Metade, cerca de 20,1 mil milhões de dólares norte-americanos, foi gasta pelos países a sul do Saara.
O Quénia, Uganda e Angola tiveram, respetivamente, os terceiro, quarto e quinto maiores orçamentos militares na África subsariana.
Quando se trata de orçamentos militares, os números absolutos são pouco significativos. "As despesas devem ser sempre medidas em função da dimensão da economia", disse à DW Judy Smith-Höhn, diretora do grupo de consultoria Tutwa na África do Sul.
Por exemplo, em 2021, o Botswana, país de pequenas dimensões, gastou 2,9% do seu Produto Interno Bruto (PIB) na defesa, de acordo com o SIPRI. Em comparação, o orçamento da defesa de 2022/23 da África do Sul representa 0,7% do PIB, calculou o especialista Darren Olivier. O SIPRI calcula que a média global de despesas no setor no ano passado equivaleu a 2,2% do PIB.
Os gastos de Moçambique, um dos países mais pobres de África a braços com um conflito violento no norte do país, representaram no ano passado 1,5% do PIB – menos 0,5% do que em 2020, segundo o SIPRI.
Já o orçamento da defesa na Nigéria atingiu 1,02% do PIB, em 2021; o valor era de apenas 0,6% no ano anterior. "O que é muito pouco" tendo em vista os desafios que o país enfrenta, comenta Olivier.
"O Estado é muito vulnerável a crises de segurança devido ao seu vasto território, que não consegue monitorizar na totalidade, e às suas longas fronteiras, difíceis de controlar."
O elevado preço da segurança
A Nigéria é um dos países mais atingidos pelos ataques violentos da milícia terrorista islâmica Boko Haram, que desde 2009 tenta estabelecer um estado islâmico no nordeste do país. Há alguns dias, Ali Ndume, o presidente da comissão militar do Senado, pediu que fosse declarado o estado de emergência. Segundo o senador, o Exército nigeriano está com um financiamento deficitário e falta de pessoal para combater a crescente insegurança no país.
Os ataques terroristas ameaçam também a África Oriental. A relação tensa com a vizinha Somália levou o Quénia – que ocupa a 81ª posição no índice mundial da GFP – a modernizar o seu Exército nas últimas duas décadas.
A milícia terrorista Al-Shabaab na vizinha Somália tornou a modernização inevitável: segundo Olivier, os soldados quenianos tiveram que aprender a ser mais eficazes em operações especiais. Estas operações são sempre dispendiosas. O Quénia faz parte de uma missão militar africana no país vizinho desde 2011 e tem tropas estacionadas na região fronteiriça de Jubaland.
África do Sul: Salários elevados para os soldados
Mas nem todos podem financiar um Exército do mesmo nível com somas idênticas. A África do Sul – que ocupa o 26º lugar no índice da GFP – tem custos de mão-de-obra comparativamente elevados, o que se reflete nos salários e vencimentos do pessoal uniformizado e dos funcionários civis, diz Olivier: "Um soldado médio sul-africano faz despesas duas ou três vezes superiores ao do seu congénere nigeriano. E cinco vezes mais do que em muitos outros países do continente."
Segundo o analista, o país na ponta sul do continente tem de manter a segurança de um enorme espaço aéreo e uma fronteira terrestre e marítima de muitos milhares de quilómetros de comprimento. Isto requer a utilização de uma vasta gama de sistemas de alta tecnologia.
Mais importante ainda é a participação do Exército sul-africano em operações de manutenção da paz, diz Judy Smith-Höhn: "Há anos que a África do Sul desempenha um papel fundamental no vizinho Moçambique e na República Democrática do Congo. É ainda um dos países que fornece um dos maiores contingentes de tropas para as missões de manutenção da paz das Nações Unidas."
Smith-Hoehn diz que o orçamento de defesa da África do Sul é, ainda assim, relativamente pequeno. "Este ano, o orçamento militar foi cortado em 14%".
O Ministério da Defesa queixa-se da falta de meios financeiros para poder trabalhar, acrescenta a especialista. Para além da defesa, diz Smith-Höhn, o Exército sul-africano monitoriza as águas costeiras e as fronteiras, controla a imigração ilegal e, mais recentemente, começou a destacar soldados para conter a agitação social, como aconteceu em julho de 2021. Tudo isto são tarefas adicionais para as Forças Armadas, realça a investigadora.