Angola: Campanha para libertar ativistas de Malanje
15 de abril de 2018"Levem o vosso gatuno" - gritaram dezenas de jovens nas ruas de Malanje, durante as comemorações do Dia da Paz e Reconciliação Nacional, a 4 de abril. Os manifestantes exigiam a destituição do governador local, Norberto dos Santos "Kwata Kanawa".
Na sequência dos protestos, seis cidadãos foram acusados de subversão da ordem pública. Três deles foram condenados a penas entre cinco a sete meses de prisão efetiva. Dois foram absolvidos e outro, com 14 anos, vai a julgado de menores.
Esta semana, um grupo de ativistas lançou, em Luanda, uma "Campanha Nacional de Apoio aos Manifestantes de Malanje", exigindo a libertação.
"O crime alegado pelas autoridades é, por si só, ridículo, e até agora não foram apresentadas provas neste sentido", diz Nuno Álvaro Dala, um dos promotores da iniciativa.
O processo, acrescenta, não passa "de um esforço de, mais uma vez, o sistema de justiça judicializar o político e, como muitas vezes também acontece, politizar o jurídico, sempre no esforço de reprimir e instigar medo junto dos cidadãos".
Os ativistas vão exigir a reposição da liberdade dos jovens com mecanismos "contundentes", sublinha. Estão previstas vigílias, marchas e manifestações: "Não estou referir-me a Luanda, aliás, o centro indicado para o efeito será Malanje e Luanda vai funcionar como um segundo espaço para realizar esses protestos todos para que essa loucura chegue ao fim e os jovens voltem à liberdade", explica Nuno Álvaro Dala.
Vice contribuiu para condenação, diz ativista
O vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, desvalorizou a manifestação do Dia da Paz e disse que a atitude dos jovens não refletia "o sentimento e o caráter do povo de Malanje".
Para Nuno Álvaro Dala, os pronunciamentos do governante soaram como uma "ordem superior" e contribuíram para a condenação dos jovens.
"Houve da parte do vice-Presidente da República uma certa responsabilidade no sentido de que os jovens acabassem nesta situação", considera. "Depois de dar a entrevista, na qual reduziu os jovens a kupapatas ou moto-taxistas frustrados, fartos de uma série de situações com as quais não concordavam, nomeadamente terem autorização de circular pela cidade, estava na verdade a transmitir uma espécie de ordem superior".
CASA-CE: Malanje está ao abandono
Malanje fica a cerca de 476 quilómetros da capital angolana, Luanda. A província é rica em diamantes, calcário, urânio e fosfatos.
No entanto, segundo Carlos Xavier, secretário executivo local da CASA-CE, o segundo maior partido da oposição, a região está voltada ao abandono, "é uma terra praticamente esquecida".
"Não se verifica absolutamente nada no que ao desenvolvimento diz respeito. As infraestruturas são aquelas que o colono português deixou, não existem estradas secundárias e terciárias não têm asfalto, e aquelas que têm asfalto, que o colono deixou, o asfalto está esburacado. Em Malanje só restou o nome e a população que é trabalhadora", lamenta.
Por isso, o representante da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral entende que o nível do descontentamento dos jovens tem razão de ser: "As reclamações dos jovens são completamente legítimas, na medida em que foram representar a maior parte da população - que se revê nos jovens contestatários. Os tribunais e a polícia, aqui, estão ao lado da má governação, são eles que promovem a má governação."