Angola: Antigos combatentes aguardam pensões na miséria
7 de fevereiro de 2022Na província angolana do Cuanza Norte, 1.560 Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria enfrentam dificuldades por causa dos atrasos no pagamento das suas pensões. Os dinheiro dos últimos três meses do ano passado só foi entregue no final de janeiro.
José Kakola, conhecido nos tempos da guerrilha como Peti Comandante, diz que os pensionistas estão cansados dos atrasos, e a pensão que auferem já é baixíssima.
"Isto não é digno", desaba Kakola em declarações à DW. "Segundo a gíria, 'quem liberta não governa'. Os atrasos salariais são notórios e nós, os antigos combatentes, recebemos uma miséria, 23.550 kwanzas [cerca de 39 euros no câmbio atual], e chega a demorar 45 dias para chegar".
"O Estado cuspiu em nós"
Na província de Malanje, 2.043 pensionistas do Ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria exigem do Governo mais consideração.
Segundo António Fonseca, mutilado de guerra de 63 anos, os ex-combatentes foram abandonados à própria sorte. "Nós corremos perigos quando estivemos nas Forças Armadas, mas agora o Estado cuspiu em nós. O Governo olha para essas pessoas que têm uma deficiência? Um mutilado vai viver numa casa de renda?", questiona o veterano.
"Nós somos desprezados, nós não somos culpados, o culpado é o Estado".
O ex-combatente Miguel Pedro, mais conhecido por Bolongongo, vive deprimido: "Estamos esquecidos! É um situação de miséria desde 1974 no MPLA até hoj. Estou quase a fazer quarenta e tal anos nesta organização e nunca sequer tive uma bicicleta".
Dinheiro para uns e não para outros?
Se para muitos antigos combates a reivindicação são os atrasos na remuneração e salários baixos que não permitem a compra da cesta básica, para Manuel Pedro, de 70 anos, o seu maior vilão no Uíge é a excessiva burocracia para tratar dos documentos e beneficiar da pensão.
"Ainda não me atenderam por falta de não ter conta bancária. Agora, segunda-feira, é quando vou tratar da conta bancária", afirma.
O jurista Joaquim Ernesto acusa o Governo angolano de não ser honesto com muitos dos seus filhos, principalmente os Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria.
"O Estado angolano tem agido muito mal e de má-fé no tratamento dos antigos combatentes", comenta.
"Há muitas denúncias de corrupção no Ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria: pessoas que não têm o estatuto de antigos combatentes vêm usufruindo de milhares de kwanzas em nome de antigos combatentes. Então, é tempo de se repor a legalidade", afirma o jurista.