"Além do sol": Outra forma de fazer turismo em Cabo Verde
7 de agosto de 2009"Se não fosse pela música, Cabo Verde - um país tão pequeno - não seria tão conhecido. As pessoas vêm para cá porque querem ouvir a morna, a coladeira, o funaná, a música da Cesária Évora".
Alia Santos é gerente do Quintal da Música, um conhecido restaurante na Cidade da Praia. O maior sonho dessa cabo-verdiana de 47 anos sempre foi cantar para um grande público – mas, por causa de um problema na garganta, a voz é muito fraca para atravessar um salão. Por isso, dona Alia apresenta boa música cabo-verdiana – seu restaurante é um dos mais frequentados da capital do arquipélago na costa ocidental africana.
Mas, nos últimos meses, dona Alia vem notando uma queda no número de clientes estrangeiros. Para ela, talvez a culpa seja da crise econômica mundial.
Uma impressão que parece se confirmar nos números apurados pelo Instituto Nacional de Estatísticas de Cabo Verde. O índice de confiança dos empresários no setor turístico atingiu o nível mais baixo dos últimos quatro anos no primeiro trimestre de 2009. Esse indicador mede o que os empresários esperam dos investimentos no setor turístico - e as perspectivas para um futuro próximo não parecem muito animadoras.
O pessimismo não se deve apenas à crise econômica. O arquipélago na costa ocidental africana aposta no turismo, mais ainda sofre com uma oferta incipiente. A falta de segurança, de estrutura e de formação para atender os visitantes também são alguns dos motivos que acabam espantando os turistas. Muitas vezes, espera-se cerca de meia hora para receber o prato pedido em restaurantes.
"Falta um ponto de informação turística", diz Maurícia Vaz, de 31 anos, dona de um restaurante à beira-mar em Tarrafal, uma pequena cidade no Norte da ilha de Santiago, banhada pelo mar transparente e muito azul. "Eu até quis uma dessas barracas de festa para vender produtos artesanais, mas não me deram porque outros iam pedir para fazer bares", conforma-se.
Se Cabo Verde tem no turismo uma das suas principais fontes de renda, uma parte da oferta ainda é desconhecida dos visitantes. Como o Campo de Concentração do Tarrafal, que serviu de prisão primeiro para opositores do regime fascista português sob António Salazar, e depois encarcerou nacionalistas africanos vindos das ex-colônias portuguesas. Como aposta no turismo cultural, o governo quer transformar o chamado "Campo de morte lenta" num museu.
Uma iniciativa que pode ganhar destaque na carona do título de Patrimônio Cultural da Humanidade da UNESCO, concedido à Cidade Velha, na ilha de Santiago, em Junho. A Cidade Velha foi a primeira capital de Cabo Verde, e a primeira cidade construída por europeus nos trópicos.
Acompanhe as jornalistas Renate Krieger, da Deutsche Welle, e Verónica Oliveira, da rádio Praia FM de Cabo Verde, em mais uma co-produção que busca descobrir o que as dez ilhas oferecem - para além do sol.