Alfaiates africanos revitalizam a capulana em Lisboa
A capulana e os alfaiates têm um papel importante na África Ocidental. Mas a falta de formação faz com que o seu trabalho não seja devidamente valorizado. Uma designer portuguesa criou um curso para alfaiates em Lisboa.
Capulanar
A capulana, um tecido africano colorido, tem os usos mais diversos. Pode servir de vestido, de pano de mesa, de cortina ou de acessório. “Só falta revestir os prédios de capulanas” observou Sofia Vilarinho, designer portuguesa que, após uma estadia em Maputo, criou o verbo capulanar. "Através da capulana, o têxtil torna-se verbo.“ Ela mantém um curso para alfaiates africanos em Lisboa.
Formação e valorização dos alfaiates
Sofia Vilarinho é licenciada em design e interessou-se pela capulana de Moçambique durante o seu doutoramento. Ao visitar Maputo, apercebeu-se da importância do tecido para a cultura moçambicana e do papel central que os alfaiates têm na moda do país. Ao regressar a Lisboa, a designer portuguesa criou um curso de formação para alfaiates imigrantes.
Os alfaiates
Os alfaiates imigrantes que participam na formação vêm da África Ocidental, onde a tradição do corte do pano é mais forte - Guiné-Bissau, Guiné Conacri e Senegal, na maioria. Através de uma cooperação com a Modatex, um centro de formação têxtil em Lisboa, o primeiro curso realizou-se entre 2011 e 2012 com nove formandos e, em 2013, são dez os alfaiates.
Aplicação em África
Segundo a professora Elisa Carvalho [na foto, do lado direito] a maior dificuldade para os formandos é trabalhar com materiais diferentes. Em Lisboa, o curso para os alfaiates imigrantes foca a aplicação dos conhecimentos adquiridos durante a formação localmente em África.
Novos materiais de trabalho
Em África, os alfaiates que participam na formação em Lisboa trabalhavam com fitas métricas. Em Lisboa, aprendem a trabalhar com a régua, o papel, o lápis e o sistema. A formação contempla também um aperfeiçoamento das técnicas de desenho, criatividade, a sensibilização para a combinação de cores, corte, costura, informática e tecnologia têxtil.
Atelier dos Alfaiates Africanos
O "Atelier dos Alfaiates Africanos" é uma outra parte do projeto de formação. Depois de passarem no curso, os alfaiates vão para o atelier e têm contacto com o público e produzem roupa para clientes. Desta forma, abrem uma carteira de clientes e não ficam somente nas comunidades, evitando ficar numa espécie de gueto, já que exibem também as suas criações em feiras e mostras de design ou moda.
As criações
As criações dos alfaiates africanos são bastante variadas e coloridas. A maior parte dos alfaiates na formação orgulha-se da profissão e, agora, também do prestígio que vão ganhando com a abertura dos seus horizontes, através da aquisição de mais técnicas para trabalhar os tecidos.
Moderno e tradicional
A capulana, o tecido africano colorido que serve de base para as criações dos alfaiates, é utilizada ora para juntar o tradicional ao moderno, ora para deixar simplesmente uma marca africana em modelos de roupa ocidentais. O atelier faz essencialmente roupa por medida e as peças únicas, produzidas manualmente, podem também ser acompanhadas por acessórios feitos de capulana.
Um futuro melhor
Abubacar Mané, um jovem alfaiate guineense de 35 anos. Desde pequeno que trabalhava como alfaiate, a profissão da sua mãe. Em Portugal, não pensava continuar, porque não via um futuro. Depois da formação e feiras de design, o jovem quer continuar a apostar na profissão. “Às vezes ficamos aqui a trabalhar nas obras, mas há pessoas que têm um dom e sabem mesmo coser. E eu sou uma dessas pessoas!”