Alemanha empenhada em estender os braços a Angola e a África
4 de março de 2021A consultora, com sede na Alemanha, tem foco na assessoria e gestão de projetos na Alemanha e Angola e procura encontrar soluções sustentáveis em resposta às necessidades socioeconómicas da região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Em fevereiro, a empresa realizou um webinar onde foi debatido , com especialistas e representantes de empresas e organizações, o tema da cooperação económica e investimento entre a Alemanha e Angola. O seminário contou igualmente com a intervenção da embaixadora de Angola na Alemanha, Balbina da Silva.
DW África: Como olha para o estado atual das relações económicas entre Alemanha e Angola?
Sandra Sabrowsky (SS): Alemanha e Angola têm já, de longa data, uma boa relação. Seja a nível político, seja a nível comercial. O que vejo é a realização do que já tem estado a acontecer ao longo dos anos. A visão é muito positiva, há um enorme espaço para se preencher. Alemanha está, mais do que nunca, engajada em estender os braços não só para Angola mas para a África no geral. Salientou-se mais uma vez a iniciativa KFW DEG, que é o programa "Africa Connect" que também procura promover com que o empresariado alemão invista muito mais em África e dando as garantias de que esses investimentos serão muito bem geridos e bem acompanhados. A parte alemã está ávida para estreitar essas relações comerciais de facto.
A Alemanha é a potência que é e tem muito para poder fazer naquela região sobretudo porque é um país com especialidade na exportação, tecnologia e com o know-how. Com o Plano Marshall para África e com todas as valências que a Alemanha tem, Angola está aberta para também acolher essas parcerias económicas - quer seja a nível privado quer a nível governamental - e estreitar e fazer acontecer os acordos bilaterais. Angola é um mundo de oportunidades e teve uma reviravolta que promete muito.
DW África: Com a eleição de João Lourenço, em 2017, perspetivou-se um resgate das relações bilaterais e uma maior cooperação entre Angola e Alemanha. Considera que tem havido avanços nesse sentido ou ainda o cenário de dívida em Angola e o tema da corrupção têm sido entraves ao investimento no país?
SS: Vejo que o país, e principalmente nos últimos três anos, deu um enorme passo no combate à corrupção - que é uma agenda do Governo de Angola que tem estado a ser muito bem sucedida - e que dá um conforto de olhar para o país de uma forma muito positiva. Por isso, não vejo o fator corrupção, hoje em dia, como sendo uma entrave para que nós, os empresários, possamos investir em Angola e na região da SADC de maneira nenhuma.
Quanto às relações bilaterais, eu não diria que tenha havido um resgate mas sim uma ativação. Nós temos neste momento por volta de 30 novos projetos da Alemanha nos vários setores, principalmente de transporte e agricultura, a decorrer em Angola. Eu noto o interesse da parte alemã em muito mais fazer para com Angola, não só através de investimento direto, mas também da prestação de serviço. As estatísticas têm demonstrado que estes números aumentaram de forma muito positiva. Nós temos ativos em torno de 36 acordos bilaterais afirmados e em memorandos e os dois países têm de trabalhar no sentido de ver a situação de win-win, onde é que há as valências.
DW África: Em 2018, entrou em vigor em Angola a lei do investimento estrangeiro. Trouxe mudanças e benefícios?
SS: Sim, muito. Essa lei permite que o investidor estrangeiro possa fazer investimento direto sem ter que criar, necessariamente, uma parceria ou associar-se a um empresário local. Esta lei é extremamente vantajosa e é um passo muito positivo que de facto facilita muito mais. Permite que o empresário internacional ou estrangeiro tenha também domínio de gestão dos projetos e os valores que ele vai levar ao país e assim também uma interação direta com as instituições do país sem ter intermediários necessariamente. É de facto um bem-haja por essa lei que passou.
DW África: Aquando da visita de João Lourenço a Berlim, em 2018, falou-se da necessidade de um tratado que evitasse a dupla tributação entre Angola e Alemanha. Seria um passo importante?
SS: Extremamente importante. E tenho informação que esta lei está a ser ainda estruturada, mas que está, de facto, na agenda das autoridades competentes. Angola está num bom caminho neste momento. Nós estamos à espera, não sei quando é que vai se reafirmar, mas está em cima da mesa.
DW África: Para os próximos tempos, quais serão os setores que deverão merecer maior aposta por parte dos investidores alemães?
SS: Há um chamado muito grande da parte angolana para que haja investimentos principalmente na área da agricultura, do turismo, da saúde e da educação. E as indústrias transformadoras obviamente que também são uma mais-valia sobretudo porque Alemanha tem equipamento que dê resposta qualificada e com qualidade a aquilo que são as necessidades do país. E isso permitindo também que haja criação de empregos e a capacitação local dos funcionários que se possa vir a contratar.
DW África: No seu entender, quais são os maiores obstáculos que ainda persistem e, por outro lado, os aspectos que possam ser atrativos para os investidores alemães?
SS: É saber que os investimentos são uma grandessíssima mais-valia naquilo que são os custos para contratação de pessoal, que são muito inferiores comparativamente a outros mercados. As oportunidades nos vários setores, além das receitas que podem gerar dentro do país e a partir daí ser uma ponte, não só a nível da capital, mas também de outros pontos do país - nas várias oportunidades de negócios que existem - com isso há uma atratividade muito grande. O que pode ser um ponto negativo, que ainda é um processo, é de facto a burocracia. O processo de decisão precisa de ser um bocadinho mais rápido, de forma a agilizar as decisões, as várias etapas desde a legalização dos documentos, concessão de terrenos, etc. Tudo isso precisa ter uma agilidade e rapidez de forma a poder-se entrar muito mais rápido para o mercado.