Alemanha e Níger continuam a lutar contra imigração ilegal
16 de agosto de 2018Parceiro de peso na luta contra o terrorismo e a imigração ilegal, o Presidente do Níger, Mahamadou Issoufou, reuniu-se na quarta-feira (15.08), em Berlim, com a chanceler alemã, Angela Merkel. Um encontro caloroso entre os dois dirigentes e durante o qual a chanceler renovou o seu apoio ao Presidente Issoufou.
O correspondente da secção francesa da DW África, Julien Méchaussie, entrevistou na manhã desta quinta-feira o Presidente do Níger.
DW África: O seu país, o Níger, tem tido um papel de destaque em matéria de segurança no continente africano e, naturalmente, um dos temas abordados com a chanceler Angela Merkel foi a luta contra o terrorismo, tanto no Sahel como contra o Boko Haram. Sente-se bem apoiado pelos parceiros europeus e em particular pela Alemanha?
Mahamadou Issoufou (MI): No Sahel, estamos preocupados com um certo número de ameaças terroristas e de organizações criminosas. Mas temos o mesmo problema na bacia do Lago Chade. E para podermos enfrentar com sucesso essas ameaças, os Estados da bacia do Lago Chade e do Sahel decidiram juntar as suas capacidades para combater de forma eficaz o terrorismo e o crime organizado. Na bacia do Lago Chade, os Camarões, o Níger, a Nigéria e o Chade instalaram uma força multinacional e no Sahel a nossa preocupação é principalmente combater o terrorismo no norte do Mali. Daí, a criação e instalação de uma força conjunta, o G5 Sahel. Este combate que levamos a cabo com a colaboração de todos, continua a necessitar de muita ajuda e solidariedade internacional. Pelo facto, aproveitei o meu encontro com a chanceler alemã para solicitar um aumento do apoio a nível da União Europeia e da ONU, a fim de conseguirmos manter por muito tempo a força conjunta do G5 Sahel. Tivemos alguns anúncios de financiamento que permitem cobrir partes das operações da força, mas pode-se imaginar que a luta contra o terrorismo é longa e por isso precisamos de uma fonte de financiamento perena.
DW África: A Europa, e particularmente a Alemanha, tem questionado muito o Níger num outro assunto que o seu país também tem um papel importante: a imigração ilegal. Convém recordar que o Niger foi o único país que aceitou albergar no seu solo um centro para reter os africanos que querem imigrar para a Europa. Acha que a Alemanha como parceira está a exigir muito do seu país?
MI: Não, até porque a nossa posição é muito clara. A nossa atuação sobre diferente aspetos não é porque nos pedem, mas porque consideramos que é um dever nosso. E temos duas razões para explicar o nosso forte engajamento na luta contra a migração clandestina. A primeira é moral. Enquanto responsável africano, não admito que jovens do meu continente continuem a morrer no deserto ou no Mediterrâneo. A segunda razão diz respeito à segurança. Os passadores que fazem esta atividade criminosa e que transportam os imigrantes para a Líbia, regressam em seguida ao Niger com armas. Então para nós existe um problema de segurança que temos que solucionar. Essas são as duas principais razões que levaram o Níger a conceber um plano de luta contra a migração africana clandestina, plano que foi colocado em prática com muito sucesso porque conseguimos reduzir drasticamente o fluxo de migrantes. Em 2016, mais de 100 mil migrantes passaram pelo Níger e hoje o fluxo baixou para menos de dez mil.
DW África: O Níger beneficia de uma ajuda europeia de mil milhões de euros anualmente e também os Estados Unidos da América ajudam o seu país no quadro do programa "Compact Niger", com um envelope de 400 milhões de euros, mas impondo contudo algumas condições. Por exemplo, o Níger deve realizar progressos no que toca ao pluralismo político...
MI: O Niger é um país democrático, tão democrático como os Estados Unidos da América. O Niger é um Estado de direito onde todas liberdades, de expressão, de manifestação de associação, etc são garantidas e respeitadas. Por outro lado, estamos engajados num programa de "renascimento" e entre as prioridades estão a criação e instalação de instituições democráticas estáveis e fortes. Tudo isso porque pensamos que África corre um risco. Durante anos África esteve sob vários regimes ditatoriais e se não estivermos atentos, o que ameaça atualmente o nosso continente é a anarquia. Não precisamos de ditaduras nem de anarquias, mas necessitamos de regimes capazes de assegurarem a ordem e a liberdade. Costumo dizer que ordem sem liberdade é uma ditadura e a liberdade sem ordem é a anarquia. Estamos a construir no Níger a democracia e tudo faremos para que seja um sucesso. Estamos convencidos de que a democracia, a segurança e o desenvolvimento são três pilares intimamente ligados e a minha tarefa como Presidente do país se assenta na segurança, na democracia e no desenvolvimento.