Alemanha debate menos liberdades para não vacinados
25 de julho de 2021Helge Braun, chefe de Gabinete da chanceler alemã Angela Merkel, disse ao jornal alemão "Bild am Sonntag" que poderá ser negada a entrada em bares, cinemas ou eventos desportivos na Alemanha às pessoas não vacinadas contra a Covid-19.
O início de uma quarta vaga do coronavírus "não seria sem consequências", disse o político democrata-cristão de 48 anos à edição de domingo do popular tablóide.
"Se tivermos uma elevada taxa de infeção, então os não vacinados terão de reduzir os seus contactos", disse ele. "E isso pode significar que certas opções como restaurantes, cinemas e visitas a estádios, mesmo para pessoas não vacinadas que tenham sido testadas, deixariam de ser possíveis, porque o risco para todos os outros é demasiado elevado", afirmou.
Braun, que também é médico, disse que outro "lockdown" completo pode ser evitado na Alemanha se demonstrar-se que as vacinas funcionam bem contra a Variante Delta do coronavírus.
Ele exortou aqueles que ainda não receberam uma vacina que o façam.
"A vacinação protege 90% de uma infeção grave pelo coronavírus", disse ele, "e aqueles que tiverem sido vacinados terão definitivamente mais liberdade do que aqueles que ainda não foram vacinados".
"Comentários vão mais longe"
Os comentários de Braun vão mais longe do que as últimas observações da chanceler Angela Merkel sobre esta questão.
Na última quinta-feira (22.07), ela sugeriu que haveria uma sociedade de dois níveis, dizendo apenas que "quanto mais vacinados, mais livre seremos novamente".
Entretanto, o candidato democrata-cristão quotado a substituir Merkel utilizou uma entrevista com a emissora pública alemã ZDF para distanciar-se desses planos.
Armin Laschet, o primeiro-ministro do Estado ocidental da Renânia do Norte-Vestefália, disse hoje (25.07) que "num país livre, há liberdades civis não só para certos grupos".
"Não acredito na vacinação obrigatória, e não acredito em exercer indirectamente pressão sobre as pessoas para se vacinarem", disse ele.
"Vacinação compulsória às escondidas"
O líder adjunto do partido liberal FDP, Wolfgang Kubicki, também criticou os comentários de Braun.
Em declaração aos média alemães, disse que tais planos equivalem à "introdução da vacinação obrigatória às escondidas".
"Além disso, tal categorização dos direitos fundamentais em primeira e segunda classe é claramente inconstitucional", disse ele.
Já o líder do grupo parlamentar alemão do partido A Esquerda, Dietmar Bartsch, criticou o chefe de gabinete de Merkel por utilizar a imprensa para apresentar uma proposta de mudança de política.
"Deve haver um fim aos novos anúncios semanais do gabinete da chanceler", disse. "O objetivo deve ser uma regulamentação clara e compreensível que esteja em conformidade com a constituição".
Como outros países estão a tratar não vacinados?
Os comentários de Braun acontecem num momento em que outros países discutem restrições semelhantes sobre aqueles que não são vacinados.
Na semana passada, o Governo britânico fez uma reviravolta ao introduzir dos chamados "passaportes vacinais" como um requisito para entrar em grandes eventos, clubes noturnos ou restaurantes.
Israel também se moveu para reintroduzir um esquema semelhante em à meio da preocupação de infeções crescentes da Variante Delta, descoberta pela primeira vez na Índia.
A França implementou um chamado "passe de saúde", que contém registos individuais de vacinação sob a forma de um código QR armazenado numa aplicação móvel.
O Presidente francês Emmanuel Macron advertiu que os trabalhadores da saúde que não forem vacinados até 15 de setembro, poderão enfrentar a suspensão do pagamento ou mesmo o despedimento.
As medidas desencadearam protestos no país por parte daqueles que argumentam que equivalem a um ataque às liberdades civis.