Albinos ainda vivem com medo em Nampula
9 de fevereiro de 2017O tráfico de albinos diminuiu nos últimos dois anos em Nampula. Anteriormente, esta província no norte de Moçambique era a que registava mais casos de raptos no país. Desde o início de 2016, os albinos vivem em relativa tranquilidade. No entanto, dizem que ainda não se sentem muito à vontade. A Polícia moçambicana tem mostrado poucos resultados, mas diz que a situação está controlada. A Procuradoria-Geral de República (PGR) fala de redução em quase metade dos casos processados e julgados no ano passado.
Pedro Augusto, de 19 anos, sofre de albinismo. Confirma que os albinos nos centros urbanos ultimamente vivem momentos de paz, mas receia que o mesmo não aconteça nas zonas rurais.
"O medo continua para todos. Apesar da redução, mesmo assim, nós não temos certeza se isso é só uma mini-pausa. Isso [rapto de albinos] ouço dizer que acontece nas localidades [zonas urbanas] onde existem, mas são casos que não são reportados", diz Pedro.
Casos por resolver
Crenças que atribuem poderes mágicos aos albinos fomentam o mercado negro, onde são vendidas partes dos seus corpos.
No ano passado, foram registados em Nampula 16 casos relacionados com o tráfico de albinos, contra 32 em 2015, de acordo com o procurador-chefe na província de Nampula, Fernando Uache: "Tivemos um total de seis processos julgados e desses processos houve condenação de dez pessoas''.
Segundo o procurador provincial, as campanhas de sensibilização junto das comunidades e a punição severa, com penas que variam entre 10 e 40 anos, foram factores que contribuíram para a redução do fenómeno.
Pedro Augusto é irmão de Auxílio César Augusto, um albino raptado em dezembro de 2014. O jovem terá sido aliciado por estranhos que lhe terão oferecido trabalho, conta o irmão.
"Até hoje não tornamos a vê-lo. Nós podemos pensar que já não está em vida. Existem suspeitos do caso e só foram detidos um mês e foram soltos. E, até hoje, o assunto está parado'', afirmou.
Pedro Augusto mostra-se desiludido com as autoridades policiais e judiciárias pela morosidade na investigação do desaparecimento do irmão. "O processo está na PIC [Polícia de Investigação Criminal] e na Procuradoria, mas a polícia diz que não há provas suficientes para manter detidos os suspeitos".
O porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Nampula, Zacarias Nacute, reconhece que alguns casos não foram esclarecidos. Mas promete mais ações, sem avançar datas.
''Mais de 90% dos casos [registados desde 2014] foram esclarecidos, portanto não foi possível esclarecer todos os casos, mas é de louvar porque grande parte dos crimes foram esclarecidos pela Polícia da República de Moçambique", defendeu.
Apesar da calma relativa, a Polícia e a PGR apelam à denúncia de casos de tentativa de tráfico de seres humanos.