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Ajuda humanitária corre riscos para combater fome na Somália

27 de julho de 2011

A Somália sofre com uma das piores crises de fome da própria história. Organizações humanitárias tentam auxiliar vítimas da fome no país devastado por anos de guerra civil, mas acabam arriscando a própria vida.

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Somalis do sul do país recebem comida num centro de alimentação na capital, Mogadíscio
Somalis do sul do país recebem comida num centro de alimentação na capital, MogadíscioFoto: dapd

Na capital somali, Mogadíscio, panelas gigantescas sobre fogueiras cozem purê de milho e molho. Centenas de pessoas se acotovelam diante das panelas enquanto esperam a comida ficar pronta. Fugindo das regiões mais atingidas pela fome na Somália, vieram para Mogadíscio. Das mãos de cozinheiros somalis, recebem uma refeição quente.

O trabalho dos cozinheiros é perigoso. Cerca de metade da capital está nas mãos de insurgentes radicais islâmicos. Nos últimos anos, membros da milícia Al Shebab (ligada à rede terrorista internacional Al Qaeda) ameaçaram e mataram diversos funcionários de organizações de auxílio – direcionadamente.

“Às vezes, é necessário trabalhar muito discretamente”, relata Sharifa Omar Abukar, que trabalha para uma dessas organizações somalis. Por outro lado, diz Abukar, “muitos dos shebab não sabem nem ler, nem escrever. Não sabem o que está por trás da organização [de auxílio], se somos somalis ou estrangeiros. Nem o emblema adianta para tirar o risco”.

Somalis fugindo da fome em regiões atingidas pela seca caminham na principal estrada que leva da fronteira somali a Dadaab, no Quênia
Somalis fugindo da fome em regiões atingidas pela seca caminham na principal estrada que leva da fronteira somali a Dadaab, no QuêniaFoto: AP

Discrição facilita trabalho de organizações

Funcionários de várias organizações evitam aparecer em público, não fazem publicidade das próprias ações, mas o risco continua. Dois membros do grupo para o qual Abukar trabalha foram executados por milicianos. Um deles morreu com um tiro na nuca, dado à queima-roupa. Mas nem Abukar, nem os colegas dela fugiram. Continuam trabalhando, também em território shebab.

Mesmo que as organizações de auxílio sejam conhecidas, qualquer coisa que leve as milícias shebab a desconfiarem de qualquer tipo de partidarismo favorável ao governo somali – que as milícias combatem – pode ser fatal.

Sob essas condições – e um trabalho discreto – outras organizações também conseguem ajudar na Somália com dinheiro vindo de países do Ocidente. A organização irlandesa Concern, por exemplo, tem representação local há 25 anos. “Nossos funcionários na Somália são todos nativos”, diz Austin Keenan, responsável da organização pela África oriental. “Eles sempre viveram e trabalharam na Somália, conhecem as necessidades do país e sabem como devem trabalhar”.

Também a Concern trabalha discretamente, já que qualquer palavra pode ser a palavra errada. Muitas organizações conseguem ajudar em todos os territórios somalis por causa dessa neutralidade – a maior parte das vezes com organizações parceiras no próprio país. Um exemplo é o Comitê da Cruz Vermelha Internacional – conhecido na Somália como Movimento somali do Crescente Vermelho.

Também os Médicos Sem Fronteiras e organizações cristãs como a norueguesa Norwegian Church Aid, assim como a filial somali da Diakonie, a organização humanitária da igreja evangélica na Alemanha, conseguem trabalhar na Somália.

Autora: Bettina Rühl (Mogadíscio) / Renate Krieger

Edição: António Rocha

Mulheres e crianças somalis esperam para receber comida em Mogadíscio (7/7)
Mulheres e crianças somalis esperam para receber comida em Mogadíscio (7/7)Foto: AP