Agualusa critica "pouca maturidade democrática" de Mondlane
17 de outubro de 2024"Não me parece correto que ele tenha proclamado a vitória antes de haver resultados definitivos e que tenha, inclusive, ameaçado com a subversão da Constituição e do processo eleitoral. Isso não se faz, não está certo, não é correto e não pode ser aceite", defendeu o escritor angolano José Eduardo Agualusa criticou, em entrevista à Lusa, em Maputo.
Apesar de ter nascido em Angola, o escritor está radicado há vários anos em Moçambique e vai lançar em Portugal, em 25 de outubro, o seu novo livro.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS) declarou-se, em 10 de outubro, vencedor das eleições para Presidente da República com base nos resultados das atas e editais da votação que estão a ser processados pela sua candidatura.
"Estamos a fazer uma declaração pública de vitória em face das atas e dos editais originais, verdadeiros, que chegaram a nós", disse o candidato.
"Uma irresponsabilidade enorme"
Instado a comentar este anúncio, Agualusa disse que se trata de "uma irresponsabilidade enorme", destacando que o político chegou a ameaçar a comunidade internacional que esteve em Moçambique em missão de observação eleitoral.
"Não se pode aceitar uma atitude destas. É de pouca maturidade democrática, até porque ele agora tem responsabilidades, quer dizer, mesmo que não ganhe [as eleições], os resultados dele implicam maior responsabilidade", acrescentou Agualusa.
O escritor defendeu que os resultados alcançados por Venâncio Mondlane e que vêm sendo anunciados pelos órgãos oficiais implicam ainda a sua entrada no xadrez político nacional, argumentando que não pode ser "ignorado" pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, partido no poder) e pela oposição.
"Isto dá-lhe uma responsabilidade acrescida. Ele precisa de ser mais responsável nas afirmações que faz e precisa de ser responsabilizado por essas afirmações", afirmou, descrevendo o político Mondlane como "a grande revolução" do atual processo eleitoral.
"Um dos grandes vencedores"
"Sem dúvida que é um dos grandes vencedores, porque ninguém estava à espera, um homem que aparece sem ter uma carreira de anos na política, sem ter sequer um partido e teve que se associar a outro e depois consegue estes resultados", comentou Agualusa.
O escritor acrescentou que os resultados que estão a ser anunciados significam que "os moçambicanos anseiam por uma mudança", pedindo que a FRELIMO e a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO, principal força de oposição) estudem o atual processo eleitoral.
"Isso significa que o partido no poder precisa de avançar no sentido de uma mudança interna para responder a essa inquietação da população moçambicana e a oposição também precisa de encontrar lideranças mais responsáveis", avançou.
"Tem que se pensar porque é que isto aconteceu. A RENAMO, de facto, é a grande derrotada neste processo e o atual dirigente da RENAMO é realmente é o grande derrotado", concluiu Agualusa.