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PolíticaPortugal

Afrodescendentes apreensivos com extrema-direita em Portugal

22 de fevereiro de 2024

A DW África ouviu cidadãos da comunidade africana sobre as eleições legislativas antecipadas em Portugal, marcadas para 10 de março. Há receio de uma possível subida da extrema-direita anti-imigração.

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Rua Augusta, em Lisboa (Portugal)
Foto: Bildagentur-online/McPhoto-Boyun/picture alliance

Enquanto decorre em Portugal a pré-campanha para as eleições legislativas antecipadas de 10 de março próximo, vozes influentes da comunidade africana e afrodescendente estão apreensivas face à tendência de crescimento do partido de extrema-direita CHEGA.

Alguns dos cidadãos ouvidos pela DW África apelam ao voto contra o "racismo" e a "xenofobia". Menos preocupados com o facto de não estarem em posições elegíveis, dirigentes associativos exortam ao voto na mudança ou na continuidade de políticas que melhor servem os interesses de integração dos imigrantes.

Pré-campanha a todo o vapor

Os partidos políticos já andam nas ruas a tentar conquistar o voto dos portugueses. Os imigrantes com nacionalidade portuguesa também podem exercer o direito de voto e ajudar a eleger os deputados à Assembleia da República e, consequentemente, aquele que será o próximo primeiro-ministro de Portugal.

Entre os oito candidatos estão Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista (PS) e Luís Montenegro, líder social-democrata que dá a cara pela coligação Aliança Democrática (AD). 

Também concorrem os líderes do CHEGA (André Ventura), da Iniciativa Liberal (Rui Rocha), do Bloco de Esquerda (Mariana Mortágua), do Partido Comunista Português (Paulo Raimundo), do PAN (Inês de Sousa Real) e do LIVRE (Rui Tavares).

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Comunidade africana 

A comunidade africana acompanha a corrida eleitoral com algum interesse, depois da demissão de António Costa, que liderava o Governo socialista e cuja política era vista como mais favorável aos imigrantes.

Porém, o guineense Carlos Ramos, integrante do Movimento Cívico "Lusofonia de Afetos", que apoia a candidatura de Pedro Nuno Santos, reconhece tratar-se de uma luta renhida. "Estas eleições são muito difíceis tanto para a AD como para o PS", afirma.

"Sentimos um [crescimento] da direita radical, que futuramente pode juntar-se à AD. De facto, temos de [nos] juntar à máquina do PS, até para continuarmos o projeto iniciado por António Costa", diz Ramos. 

Afrodescendentes nas listas

O também deputado municipal da Câmara de Sintra não se sente beliscado pelo facto de não haver afrodescendentes em posição elegível nas listas partidárias. Para já, o que para ele importa é mobilizar os eleitores através do referido movimento cívico, para que a direita não vença as legislativas.

"O nosso apoio em relação ao PS é no sentido de lutar contra a abstenção e chamar a população das zonas periféricas de Lisboa, nos bairros sociais, etc., para saírem [de casa] e tomarem uma decisão contra a direita radical", afirmou.

A cabo-verdiana Benvinda Barbosa, militante do PSD convidada pela AD para integrar a lista de deputados à Assembleia da República pelo distrito de Lisboa, está otimista.

"Estamos com força, cheios de entusiasmo e a fazer uma boa campanha. Eu acho que vai correr bem", disse.

A militante acredita que uma vitória da AD poderá beneficiar não só os imigrantes africanos, levando as suas preocupações ao Parlamento: "[Queremos] uma melhor integração da nossa comunidade. Resolver as coisas que estão más neste momento, tanto na habitação como na saúde", disse.

Jovem levanta um cartaz numa manifestação antirracismo em Portugal (foto de arquivo)
Jovem levanta um cartaz numa manifestação antirracismo em Portugal (foto de arquivo)Foto: Carlos, João/DW

Movimentos de extrema-direita

A pensar nas próximas eleições legislativas, a jurista Anizabela Amaral, membro da Plataforma Quilombo, de intervenção antirracista, avisa que os movimentos da extrema-direita são perigosos para a democracia e "podem pôr em causa direitos adquiridos".

"Esta é, realmente, uma das nossas maiores batalhas. Consideramos que estas eleições de 10 de março são um referendo à extrema-direita. Os portugueses devem mostrar claramente um cartão vermelho à mesma, reduzindo consideravelmente o número de representantes do partido CHEGA no Parlamento português", diz.

A ativista portuguesa de origem angolana, envolvida na organização da manifestação nacional contra o racismo e a xenofobia que tem lugar este sábado (24.02), em Portugal, adianta que está em curso um trabalho de esclarecimento junto da comunidade africana sobre o valor e a força do voto.

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