2013 trouxe mais convulsões para o Magrebe e Oriente Médio
24 de dezembro de 2013No Egito os militares retomaram as rédeas do país. O Presidente eleito, o islamista Mohamed Morsi da Irmandade Muçulmana, é considerado o grande derrotado em 2013. O seu julgamento - a que teve de assistir numa "gaiola" - foi uma autêntica humilhação. Morsi exclamou em pleno tribunal: "Não têm direito de me julgar. Eu sou o vosso Presidente!"
Egito: militares voltam ao poder e julgam Morsi
O processo contra Morsi está a decorrer desde novembro e - tudo o indica - vai ser levado até ao fim. Morsi é acusado de incitação ao homicídio de opositores e poderá vir a ser condenado à morte ou a uma pena de prisão perpétua. Morsi é o homem que começou o ano como presidente eleito e vai acabar 2013 na prisão.
Em julho de 2013, Mohamed Morsi foi deposto pelos militares depois de massivos protestos contra o seu regime. Guido Steinberg, perito em questões do Médio Oriente, na fundação alemã Stiftung Wissenschaft und Politik – SWP ("Ciência e Política") lembra que os militares não só reprimem a Irmandade Muçulmana, como também as forças liberais revolucionárias.
A oposição egípcia parece ter perdido a força: os observadores dizem que está frustrada. O longo combate pelo poder político cansou todos os intervenientes.
Como será o futuro? Os militares afirmam que estão empenhados em elaborar uma nova constituição. Ainda no decorrer do próximo ano de 2014 deverão realizar-se eleições parlamentares e presidenciais. Até lá, Adli Mansur, o Presidente de transição e homem de confiança do chefe das Forças Armadas, Abdel Fattah al-Sisi, continuará a governar o Egito.
Tunísia: partido do poder teme destino egípcio
Na Tunísia, as partes em conflito também ainda não desarmaram. A situação continua tensa. Foi neste país magrebino que começou, em 2011, a "Primavera Árabe".
As eleições de 2011 tinham acabado com a vitória dos islamistas moderados do partido Ennahda. Mas este partido está bastante preocupado com os acontecimentos no Egito: o que aconteceu aos parceiros da Irmandade Muçulmana é um autêntico pesadelo para os dirigentes do Ennahda.
Em julho 2013 o líder oposicionista de esquerda, Mohammed Brahmi, foi assassinado. Essa morte foi atribuída a membros de um grupo fundamentalista radical sunita, os denominados "salafistas". Mas a oposição também culpa o próprio partido Ennahda, no poder.
Dezenas de milhares de tunisinos manifestaram-se desde então repetidamente contra o governo. Este aceitou entretanto partilhar o poder, no âmbito de um denominado "diálogo nacional". Aceitou também proceder à elaboração de uma nova constituição e à realização de eleições antecipadas. Mas o processo tem sido difícil: as partes, até à data, não conseguiram chegar a acordo sobre o perfil e nome do primeiro ministro de transição.
Hamadi El-Aouni, professor da Universidade Livre de Berlim (FU), conclui que "reina o medo no seio do Ennahda" e adianta: "este partido fala com todos, negoceia com todos. O único objetivo é a manutenção do poder."
Líbia: exército governamental não controla o país
Na Líbia - ao longo do ano de 2013 - aumentou também o risco de insegurança. O estado líbio corre mesmo o risco de desmoronar, dizem os observadores. Tripoli parece ser a única cidade ainda com alguma estabilidade. No resto do país reinam as milícias a mando dos diferentes "clãs" que controlam o país.
"O estado pouco pode fazer contra as milícias. A Líbia parece ingovernável", salienta Hamadi El-Aouni, professor de Berlim.
O próprio primeiro ministro de transição, Ali Seidan, foi vítima de um sequestro em outubro de 2013, mas posto em liberdade poucas horas depois. No verão foi eleito o Congresso Nacional. A tarefa de Ali Seidan era a elaboração de uma nova constituição, mas os observadores mais atentos sabem que o primeiro-ministro nem sequer iniciou os trabalhos nesse sentido.
Síria: oposição mal organizada
Na Síria, o presidente Bashar al-Assad parece ter conseguido restabelecer a base do seu poder. Em 2013, o seu exército conseguiu reconquistar parte do território, outrora sob controlo da oposição. Os observadores dizem que cerca de 80 por cento do território sírio voltou a ser controlado pelas forças de al-Assad.
O perito em questões do Oriente Médio, Hamed El-Aouni, salienta que "em 2013 o regime sírio deixou de estar completamente isolado a nível internacional. Os Estados Unidos, nestas condições, perderam a coragem de iniciar uma guerra contra Assad."
De fato, o cessar-fogo continua dependente de Bashar al-Assad. O consenso sobre a destruição do arsenal químico transformou-o de novo num interlocutor aceite pelo ocidente.
Em 2013, a hipótese de uma intervenção militar internacional diminuiu. A oposição continua muito fragmentada. Alguns grupos combatem entre si, em vez de combaterem o regime em Damasco. Alguns dos grupos tornaram-se mais radicais em 2013.
Golpes militares, atentados, guerras civis - 2013 foi mais um ano cheio de violência no Norte de África e no Médio Oriente. Guido Steinberg, especialista da fundação alemã SWP não se mostra surprendido: "Acho que seria ingénuo pensar que as mudanças poderiam decorrer sem violência e sem recuos."
Mas Steinberg se diz otimista: "Fazendo o balanço, penso que se trata-se de um desenvolvimento positivo." Dentro de alguns anos, o mundo árabe será um espaço mais democrático que hoje, acha Steinberg. Para ele 2013 foi apenas mais uma etapa em direção a essa meta: mais democracia e menos repressão no Médio Oriente.